Desde setembro de 2021, observa-se que o enfraquecimento do consumo por lácteos tem ditado os movimentos de preços para toda cadeia produtiva. As consecutivas quedas nos valores dos derivados nas negociações entre indústrias e canais de distribuição vêm sendo transmitidas também para o produtor no campo. O último dado fechado pelo Cepea mostra que o preço do leite captado em dezembro/21 e pago aos produtores em janeiro/22 chegou a R$ 2,1093/litro na “Média Brasil” líquida, recuos de 1,1% em relação ao mês anterior e de 6,1% frente ao mesmo período de 2021, em termos reais (deflação pelo IPCA de janeiro/22). Contudo, pesquisas ainda em andamento do Cepea apontam para a inversão desta tendência dos preços a partir da captação realizada em janeiro.
As consecutivas baixas nos preços ao produtor nos últimos meses têm comprometido os investimentos dentro da porteira e reduzido a oferta de leite. O Índice de Captação de Leite do Cepea (ICAP-L) registrou queda de 1,9% de novembro para dezembro. Dados recentes da Pesquisa Trimestral do Leite do IBGE apontam que a captação das indústrias caiu 3,6% do terceiro para o quarto trimestre de 2021, recuo de 5,7% em relação ao mesmo período de 2020.
Os efeitos do fenômeno La Niña, com fortes chuvas no Sudeste e estiagem no Sul, têm impactado diretamente a produção de leite, visto que a baixa qualidade das pastagens e da silagem prejudica a alimentação do rebanho. Além disso, é preciso considerar que a oferta de grãos também tem sido afetada negativamente pelo clima – o que também eleva o preço deste insumo. Em janeiro, o poder de compra do pecuarista frente ao milho diminuiu 9,7%. Para piorar, os preços de outros insumos, como suplementos minerais, antibióticos, adubos e corretivos, continuaram se elevando, corroendo a margem do produtor de leite (ver seção Custos de Produção, na página 7). Nesse contexto, os investimentos na pecuária leiteira têm sido comprometidos, com perda no potencial produtivo do País.
Ao mesmo tempo, as importações em baixa e as exportações de leite em pó em volumes 15 vezes acima do registrado em dezembro/21 (ver seção Mercado Internacional, na página 6) ajudaram a controlar os estoques de lácteos das indústrias. Não é de surpreender que, apesar da queda nos preços do UHT e da muçarela, o leite em pó (400g) tenha se valorizado em janeiro (ver seção Derivados, na página 5). Nesse sentido, o preço do leite captado em janeiro e pago aos produtores em fevereiro pode refletir esse novo cenário de valorização da matéria-prima.
O acompanhamento do Cepea do mercado spot (leite negociado entre indústrias) mostra que a disputa das indústrias por matéria-prima se acirrou fortemente nas últimas três quinzenas. Em Minas Gerais, o preço médio saltou de R$ 2,03/litro na segunda quinzena de janeiro para R$ 2,43/litro na segunda metade de fevereiro, valorização de 19,6%. Os resultados sugerem, assim, um adiantamento do período da entressafra e a tendência de alta nos preços ao produtor para os próximos meses.
MILHO: Compradores ausentes mantêm baixa liquidez
Mesmo com recentes estimativas indicando redução na produção brasileira de milho da atual temporada, os preços internos seguiram praticamente estáveis na primeira quinzena de fevereiro na maior parte das regiões acompanhadas pelo Cepea. Esse cenário se deve ao enfraquecimento da demanda. Consumidores estão resistentes em adquirir o cereal nos atuais patamares e, com isso, trabalham com o produto em estoque. Vendedores, por sua vez, estão concentrados na colheita de soja e sem necessidade de “fazer caixa”.
Entre 31 de janeiro e 15 de fevereiro, o Indicador ESALQ/BM&FBovespa (Campinas – SP) caiu leve 0,9%, fechando a R$ 96,55/saca de 60 kg no dia 15. Nessa região, que é marcada por um grande número de demandantes, compradores relatam estoques confortáveis. Na média das regiões acompanhadas pelo Cepea, os preços do cereal subiram 1% no mercado de balcão (ao produtor), mas recuaram ligeiro 0,4% no de lotes (negociação entre empresas).
No campo, produtores começam a calcular as perdas causadas pela falta de chuvas. Os relatórios divulgados em fevereiro pela Conab e pelo USDA já apresentam reajustes negativos na produção, influenciados pela queda na safra verão, que teve a produtividade prejudicada pela seca entre novembro e dezembro, período de enchimento de grãos.
A Conab estimou, neste mês, safra 2020/21 de 112,34 milhões de toneladas, queda de 600 mil t em relação ao relatório de janeiro/22, mas ainda a maior da história. Para o USDA, a produção brasileira se reduziu em 1 milhão de t, para 114 milhões.
FARELO DE SOJA: Com demanda firme, preços seguem em alta no BR
A liquidez no mercado de farelo de soja segue limitada, devido à baixa oferta do derivado. Enquanto consumidores mostram necessidade em adquirir novos lotes de farelo de soja no curto prazo, agentes de indústrias relatam dificuldades na aquisição da matéria-prima.
Esse cenário somado à disputa com compradores internacionais e à quebra de safra na Argentina, principal abastecedora global de derivados de soja, elevaram os preços domésticos de farelo de soja na primeira quinzena de fevereiro.
Na média das regiões acompanhadas pelo Cepea, o farelo de soja registrou expressiva valorização de 6,4% entre a média de janeiro e a da primeira quinzena de fevereiro.
No caso dos prêmios de exportação de farelo de soja, no Brasil, já operam nos maiores patamares em 12 anos. Com base no porto de Paranaguá (PR), a oferta de venda de prêmio de exportação de farelo de soja, referente ao embarque em março/22, passou de US$ 10,16/tonelada curta, na média da primeira quinzena de janeiro, para US$ 29,20/tonelada curta, na primeira metade de fevereiro. Trata-se do maior patamar desde 2010, quando são considerados os embarques em março de anos anteriores.
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