Esta é uma série, que traz trechos da publicação Boletim Técnico 199, da EPAGRI (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina), Do pasto ao leite: uma atividade rentável e sustentável, Como produzir 18 mil litros de leite por hectare.
O número de vacas em lactação por área utilizada se constitui num parâmetro muito importante para avaliar a eficiência produtiva de um sistema e incorpora medidas de eficiência reprodutiva como as de uso da terra.
Desde os primeiros resultados revisionais publicados por Castle et al. (1972) citados por Demarquily (1983), o aumento de carga animal (vacas/ha), quase sempre resulta num incremento da produtividade de leite/ha. Na Irlanda, McCarthy et al. (2011) relacionaram a produtividade por vaca com a produtividade por área e relataram que, à medida que aumentou o número de vacas por hectare, houve uma diminuição na produção de leite por vaca. Entretanto, constataram um aumento de 20% na produção de leite/ha, com o aumento do número de vacas/ha. Resultados semelhantes também foram relatados na Nova Zelândia (MACDONALD et al., 2008).
O número de vacas em lactação por área relaciona-se fortemente com o potencial produtivo das pastagens, com a estrutura de rebanho (% de UA Vacas), com o tamanho das vacas e com a eficiência reprodutiva (% vacas em lactação e intervalo entre partos).
De acordo com Faria (1988), a composição da estrutura do rebanho é um fator de grande importância na caracterização do potencial produtivo de um sistema, pois relaciona a vaca com a área física da propriedade, constituindo-se num importante indicador a ser utilizado, visando maximizar a produção de leite por área.
Para obter maior eficiência produtiva do sistema, ou seja, aumentar produção de leite por hectare, deve-se ter como meta aumentar o percentual de vacas no rebanho. Para isso, há a necessidade de diminuir a participação das diferentes categorias de animais, como: machos, novilhas e terneiras, bem como a eliminação de vacas com ineficiência reprodutiva.
Em termos de estrutura de rebanho, as vacas deverão ser a categoria animal a ser contemplada prioritariamente. Considera-se que em um rebanho bem estruturado as vacas representam 70 a 75% das UA presentes. Entretanto, é importante manter um número de animais jovens necessários para reposição, na ordem de 25 a 30% em relação ao número de vacas, e não buscar a reposição com animais provenientes de outros rebanhos.
O percentual de vacas em lactação constitui-se num importante indicador técnico, pois identifica o grau de eficiência do sistema, tanto em relação à estrutura do rebanho, quanto em relação à eficiência reprodutiva (Intervalo Entre Partos - IEP) e com a estratégia nutricional e o potencial genético das vacas.
A relação de vacas em lactação (VL) pelo total de vacas (TV) é um indicador influenciado pela razão entre o período de lactação e o intervalo de partos. A redução da duração do intervalo de partos e/ou aumento do período de lactação acarreta a ampliação da relação VL/TV e consequentemente da proporção de VL no rebanho. Segundo Faria (1988), uma propriedade ou um sistema de produção é considerado eficiente quando a vaca mostra persistência na produção de leite e se reproduz de forma regular. Sistemas eficientes de produção à base de pasto devem ter como objetivos: novilhas tendo o primeiro parto entre 24 e 25 meses de idade, vacas parindo uma cria a cada 12 meses e períodos de lactação de 10 meses. A associação destes fatores indicará que 84% das vacas estarão em lactação com o Dias em Lactação (DEL) médio entre 140 e 150 dias.
Ao associarmos a capacidade de suporte dos pastos (Número de UA/ ha), com a porcentagem de vacas no rebanho e porcentagem de vacas em lactação, é possível estabelecer um índice de grande significado para a definição da real capacidade produtiva do sistema, definido como a “quantidade de vacas em lactação por hectare de pasto” (FARIA, 1998). Poucos estudos correlacionam o número de vacas em lactação com o número de UA presente no sistema. No entanto, o indicador % de UA vacas em lactação se constitui num índice global importante visando aumentar a produtividade do sistema de produção.
O parâmetro técnico ideal para este indicador é que 60% das UA presentes no rebanho sejam vacas em lactação, sendo o mínimo de 40%. Maiores valores indicam maiores proporções de animais gerando receitas em relação ao número total de UA/área.
Na Tabela 1 é possível verificar o resultado da análise das URTs acompanhadas pela Epagri, onde se evidencia que as unidades Top 20% superiores apresentaram um maior número de vacas por área útil. E estabeleceram uma correta relação entre o número de novilhas e terneiras presentes no rebanho em relação ao número de vacas e, dessa forma, alcançaram uma maior capacidade de lotação dos pastos.
Constata-se que, ao intensificar a capacidade de suporte do sistema (taxa de lotação) com a adequada estrutura de rebanho e eficiência reprodutiva. Isso, possibilitou às propriedades Top 20% superiores aumentarem em 44% o número de vacas em lactação por hectare, em relação à média das propriedades.
Ao relacionar o número de vacas/ha com a produção de leite/ha em diferentes intervalos de produtividade, observa-se a importância do indicador taxa de lotação nos resultados técnicos do sistema. Na Figura 5 é apresentado o resultado dessa relação para as URTs acompanhadas pela Epagri com o objetivo de verificar quais as mais eficientes em atingir a produtividade ao redor de 18.000L/ha/ano.
Observa-se que aquelas propriedades que atingiram uma lotação de 3,0 vacas/ha pertenciam ao grupo que mais apresentou condições de produzir em torno de 18.000L/ha/ano, apresentando também o maior número de ocorrências com produções acima de 15.000L/ha/ano. Por outro lado, no grupo com lotações médias de 2,0 vacas/ha o número que URTs que atingiram a maior produtividade foi de apenas 5,0%, demonstrando desta forma que o fator número de vacas/há se constitui num dos principais indicadores a ser considerado quando o objetivo é aumentar a produtividade por área.