Esta é uma série, que traz trechos da publicação Boletim Técnico 199, da EPAGRI (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina), Do pasto ao leite: uma atividade rentável e sustentável, Como produzir 18 mil litros de leite por hectare.
O cv. Pioneiro foi obtido pelo programa de melhoramento de forrageiras da Embrapa Gado de Leite, centro nacional de pesquisa, localizado na cidade de Coronel Pacheco, Minas Gerais, através do cruzamento entre as variedades Três Rios e Mercker Santa Rita. Esse cultivar foi lançado em 1996 com a finalidade específica de ser utilizada sob pastejo, devido a suas características de crescimento.
Apresenta hábito de crescimento cespitoso, com touceiras abertas, colmos finos, folhas eretas, com grande número de brotações aéreas e basais. O intenso perfilhamento aéreo e basal lhe confere rápida recuperação e crescimento póspastejo. A alta capacidade de perfilhamento lhe permite uma rápida expansão do diâmetro da touceira, apresentando boa ocupação de espaços, resultando, assim, em maior cobertura do solo e maior disponibilidade de folhas para o gado.
Em relação à morfologia da planta, o cv. Pioneiro apresenta entre 7 e 9 folhas vivas por perfilho. Esta característica, associada ao grande número de perfilhos/m², tanto basais como aéreos, possibilita obter-se uma forrageira com alto potencial produtivo e de alta qualidade, com muito boa relação folha: colmo (Figura 9).
Os principais resultados de pesquisa apontam que o capim Pioneiro produz em torno de 46,7 toneladas por hectare por ano, com teor de proteína em torno de 18,5% (JANK et al., 2005).
Em Santa Catarina, nas propriedades que apresentam maior potencial para produção de leite por área, o capim Pioneiro é uma das variedades de Pennisetum mais utilizada. Sua escolha relaciona-se ao alto potencial forrageiro, com produções de 35 a 45t de MS/ha/ano, ao seu valor nutritivo, com teor de proteína entre 15 a 18% e 60 a 65% de NDT, a sua alta palatabilidade, ao ciclo produtivo de 210 a 240 dias e à facilidade de realização da prática da sobressemeadura. Quando sobressemeado com aveia e trevos anuais de inverno, seu ciclo de utilização pode passar de 300 dias.
Outra característica importante desta variedade relaciona-se ao sistema radicular, com alta densidade, agressivo e profundo, permitindo a essa variedade apresentar muito boa tolerância ao estresse hídrico.
A recomendação e a utilização do capim Pioneiro e/ou Kurumi constituiu-se numa excelente escolha, principalmente em propriedades com limitação de área disponível para produção forrageira. Sua utilização é recomendada para a categoria de vacas em lactação, devendo sua área ser planejada para o período vespertino, haja vista que estas variedades não toleram a presença intensa de sombra. É conhecido que as vacas excretam à noite cerca de 60% da massa diária de dejetos, concentrando então maior adubação nos piquetes utilizados nesse período. E que a vaca rejeita o consumo de forragem em áreas contaminadas, portanto, a escolha de uma pastagem de alto potencial produtivo e com altura de manejo alto diminui as áreas de restrição de consumo.
Um dos aspectos fundamentais para atingirmos o potencial produtivo destas variedades relaciona-se à escolha da área, à fertilidade do solo e à densidade de plantio. Na escolha da área devem-se priorizar áreas próximas ao estábulo (uso com vacas em lactação), preferencialmente terrenos com relevo plano e bem drenado ou com no máximo 25% de declividade. A espécie não tolera solos mal drenados ou que fiquem boa parte do ano encharcado, podendo ocorrer o apodrecimento das raízes. No manejo do capim Pioneiro e/ou Kurumi ao longo do ano serão necessárias práticas de roçada, portanto, na escolha do terreno, deve-se optar por solos sem pedregosidade ou, antes de implantar a pastagem, deve-se proceder à sistematização da área.
O capim Pioneiro deve ter um plantio bem adensado, com a implantação preferencialmente com mudas já enraizadas, com o objetivo de aumentar a eficiência de plantio e a cobertura rápida do solo. Para tanto são recomendadas de 25 a 30 mil mudas por hectare. Recomenda-se uma distância entre linhas (sulcos) entre 70 e 80cm e o espaçamento entre plantas de 50 a 70cm. Uma forma alternativa de plantio pode ser feita em covas com estacas ou mudas enraizadas (Figura 10).
Importante destacar que a menor densidade de plantio, associada a baixos índices de pega, diminui a cobertura do solo. E a ação da pata da vaca em pastoreio e das chuvas, provoca um aumento na compactação e nos processos de erosão do solo. Associada a isso, a menor densidade permite o surgimento e o desenvolvimento de espécies indesejadas.
É recomendável que na fase de implantação, quando do primeiro corte, seja feita a eliminação do meristema apical. Segundo Santos (1995) a eliminação dos meristemas apicais estimula o desenvolvimento das gemas laterais, com aumento no número de perfilhos basais e aumento no diâmetro das touceiras. Do contrário, a pastagem vai crescer verticalmente em excesso, sem aumentar a sua densidade no solo, prejudicando o seu fechamento. A recomendação é que não se faça o primeiro pastejo, mas que o pasto seja roçado numa altura entre 35 e 40cm em relação ao solo.
Por outro lado, uma das causas de insucesso no manejo do capim Pioneiro e/ou Kurumi relaciona-se ao rebaixamento excessivo das pastagens, com a eliminação dos meristemas apicais. A retirada destas estruturas provoca o retardo na rebrota da planta, novos perfilhos necessitam desenvolver-se a partir do meristema basal e, em consequência, há redução paulatina da produtividade. E, com o passar dos ciclos, há uma redução do diâmetro das touceiras, com maior incidência da luz solar sobre o solo, aumentando as chances de invasão de plantas indesejáveis.
O manejo desta variedade deve levar em consideração as características morfológicas e fisiológicas da planta. O capim-elefante, variedade Pioneiro, apresenta intenso perfilhamento. Entretanto, em função das características fisiológicas e do hábito de perfilhamento, todos os perfilhos desenvolvem-se juntos, apresentando a mesma idade fisiológica. Com o avanço da idade, ocorre uma rápida elevação dos meristema apicais, os quais ficam extremamente susceptíveis ao corte durante o pastejo (Figura 11).
A altura de resíduo remanescente pós-pastejo influencia a recuperação após o corte, pela eliminação ou não dos meristemas apicais, pela quantidade de área foliar remanescente e pela diminuição de reservas orgânicas acumuladas, fatores que afetam diretamente o vigor de rebrota e a persistência das plantas (Santos, 1995). Caso haja a preservação do meristema apical, o rebrote é mais rápido, comparativamente ao desenvolvimento de brotos a partir de gemas laterais e basais.
Durante o primeiro pastejo, no início da primavera, para que não aconteça a elevação excessiva com eliminação do meristema apical, há a necessidade de que as vacas entrem no piquete numa altura inferior à recomendada para o manejo das pastagens. Entretanto, deve-se evitar que as vacas rebaixem a pastagem numa altura inferior à altura de resíduo proposta para a variedade. Para o capim Pioneiro recomenda-se uma altura de resíduo de 35 a 40cm ao nível do solo. Posteriormente, após o primeiro pastejo, o produtor deve proceder a uma roçada de regularização, na altura de resíduo pré-determinada, de forma que os colmos residuais amadureçam durante os primeiros dois pastejos, o que faz com que após esse amadurecimento as vacas não consigam alcançar os perfilhos basais em desenvolvimento.
Para alcançar elevados níveis de produção das pastagens e das vacas é necessário conhecer e estabelecer o momento ideal de entrada das vacas na pastagem. Segundo Hodgson (1990), tecnicamente, a entrada das vacas nas pastagens deveria ser realizada quando o dossel for capaz de interceptar 95% da luz incidente, estágio em que a massa de forragem apresenta alta produtividade, com alta relação folhas: colmos com baixa taxa de material senescente, portanto, de alto valor nutritivo.
Na prática a altura média da pastagem é a ferramenta mais utilizada para determinação do momento de entrada das vacas na pastagem. Em relação ao capim Pioneiro recomenda-se uma altura no intervalo entre 90 e 100cm para a entrada das vacas no piquete, sendo esta altura dependente das condições climáticas e da época do ano.