Esta é uma série, que traz trechos da publicação Boletim Técnico 199, da EPAGRI (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina), Do pasto ao leite: uma atividade rentável e sustentável, Como produzir 18 mil litros de leite por hectare.
Santa Catarina, em função das condições climáticas de características subtropicais, possibilita a produção de forragens ao longo de todo o ano, com base na utilização tanto de espécies tropicais e subtropicais (200 a 210 dias de crescimento), quanto de espécies temperadas (120 a 180 dias de crescimento). Entretanto, sistemas produtivos baseados em pastagens perenes de verão, com alta capacidade produtiva, em função das reduzidas taxas de crescimento e valor nutritivo durante o período outono-inverno, apresentam maiores necessidades de alimentos conservados e concentrados.
O melhoramento das pastagens através da sobressemeadura com gramíneas anuais de inverno e leguminosas, sobre áreas com pastagens perenes de verão, consiste na principal tecnologia visando reduzir a estacionalidade na produção de forragens, aumentar a produtividade e o ciclo produtivo nas áreas com pastagens perenes de verão no sul do Brasil.
Constitui-se isoladamente na principal tecnologia de baixo custo para diminuir a dependência de alimentos conservados no período outono/inverno e tem importância fundamental no aumento da produtividade e da rentabilidade dos sistemas produtivos.
A Figura 18 demonstra a curva de crescimento anual das pastagens perenes de verão (Tifton 85), sob cultivo estreme e demanda de alimentos conservados, para um sistema produtivo planejado para uma lotação de 5,0 unidades animal (UA) por hectare.
A Figura 19 demonstra a curva de crescimento anual das pastagens perenes de verão (Tifton 85), com a utilização da prática de melhoramento de pastagens (sobressemeadura) e demanda de alimentos conservados, para um sistema produtivo planejado para uma lotação de 5,0 unidades animal (UA) por hectare.
Observa-se nos gráficos das Figuras 18 e 19 que em sistemas intensivos de produção a utilização do melhoramento das pastagens através da sobressemeadura possibilita um aumento na produtividade por área, com ampliação do ciclo produtivo das pastagens (10 a 11 meses), maior estabilidade na produção entre as estações do ano (inverno/verão), reduzindo consequentemente de forma significativa as necessidades de alimentos conservados.
Com a análise comparativa entre as propriedades (URTs) avaliadas pela Epagri foi possível identificar que o adequado planejamento forrageiro, associado às práticas de melhoramento das pastagens, com sobressemeadura de pastagens de inverno sobre as áreas de pastos perenes de verão (Figuras 20 e 21), além do incremento da capacidade de suporte dos sistemas, permitiu que as propriedades Top 20% superiores necessitassem menos silagem por vaca por ano do que a média.
Outro fator constatado com o melhoramento das pastagens perenes de verão, através da sobressemeadura, relaciona-se com a menor dependência das condições climáticas, principalmente em relação ao frio e ao regime hídrico. A utilização desta prática torna o sistema mais flexível, pois possibilita um melhor gerenciamento entre as áreas de pastagens anuais e perenes.
O sucesso do melhoramento das pastagens, além de estar associado às condições de clima da região, é altamente dependente das condições de solo, principalmente em relação a suas condições físicas, ao teor de matéria orgânica e a sua fertilidade.
Na escolha das espécies de inverno a serem semeadas é importante observar a adaptação das espécies às condições de clima, o seu ciclo de produção, seu potencial produtivo e valor nutritivo. No melhoramento das pastagens recomenda-se a semeadura de no mínimo duas gramíneas anuais de inverno, com ciclos produtivos diferentes, com o objetivo de aumentar a produtividade e o período de utilização das pastagens.
O cultivo de aveia mais azevém, associados a uma leguminosa de inverno, apresenta vantagens em relação ao cultivo isolado de apenas uma espécie. A aveia apresenta-se como forrageira precoce de inverno, com muito boa produção nos períodos de temperaturas baixas (inverno), enquanto o azevém apresenta baixa produção nas temperaturas mais baixas, entretanto, com a elevação das temperaturas (do inverno para primavera), sua produção aumenta de forma considerável.
Outro fator fundamental relaciona-se à escolha das variedades a serem implantadas, tendo como principais parâmetros o ciclo e o potencial produtivo da pastagem, seu valor nutritivo e sua capacidade de ressemeadura natural. A capacidade de ressemeadura natural constituiu-se num fator importante a ser considerado quando da escolha das variedades de azevém. A formação de um banco de sementes apresenta como vantagens, nos anos futuros, facilidade de implantação futura da pastagem, antecipação do período de utilização do azevém (precocidade), menor dependência climática, ampliando o ciclo de utilização das pastagens. Além disso, diminui os custos de produção da forragem, pois posteriormente necessitará de menor reposição de sementes. Recomenda-se, para regiões de altitude inferior a 800m, a semeadura de variedades precoces, tanto de aveia como de azevém. E nas regiões com altitude superior a 800m é recomendável o uso de variedades precoces para aveia e variedades de ciclo precoce e de ciclo mediano para o azevém.