Esta é uma série, que traz trechos da publicação Boletim Técnico 199, da EPAGRI (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina), Do pasto ao leite: uma atividade rentável e sustentável, Como produzir 18 mil litros de leite por hectare.
Em sistemas à base de pasto a eficiência do processo está regida pela proporção de pasto produzido que realmente é consumida pela vaca. Este princípio está relacionado com a eficiência de pastoreio e tem como base o sistema de manejo das pastagens utilizado, a disponibilidade de pasto e a qualidade do pasto, bem como a capacidade de consumo da vaca.
Sistemas produtivos que se baseiam nas pastagens como principais fontes de alimento das vacas lidam com complexos e intrincados processos biológicos relacionados à vaca, à produção e à utilização das pastagens. Associado a isso, em sistemas com taxas de lotação elevadas, a razão entre a produção e a demanda de forragem é muito estreita. Qualquer variação nas taxas de crescimento das pastagens reflete rapidamente e de forma amplificada na oferta e no consumo de pasto, afetando consequentemente o desempenho animal, o que resulta numa drástica redução da capacidade de resiliência do sistema pastoril.
Independentemente do sistema operado, o foco principal para melhorar a produtividade e a rentabilidade deve ser: gerenciar pastagem para o crescimento máximo, gerenciar pastagem para a ingestão máxima pelas vacas, gerenciar as vacas leiteiras para máxima ingestão e gerenciar a dieta para uma produção ótima. Estas últimas duas variáveis são altamente dependentes do potencial genético das vacas e do uso estratégico dos alimentos concentrados.
Segundo Sório (2006), o objetivo do manejo racional das pastagens é produzir a máxima quantidade de forragem por unidade de área e manter o equilíbrio ideal entre o suprimento e a demanda de forragens, com alta eficiência de pastoreio e transformação, mantendo-se alta lotação por área.
A eficiência de utilização da pastagem é entendida como a relação entre a Disponibilidade total da massa de pasto (diferença entre a massa acumulada e a massa residual de pasto). A Disponibilidade efetiva (Disponibilidade total menos perdas por senescência, pisoteio, fezes e urina) é expressa em percentual. Macdonald et al. (2008) recomendam que um dos objetivos do manejo das pastagens relaciona-se à eficiência de pastejo, tendo como parâmetro uma eficiência na ordem de 65 a 75%, ou seja, que 65 a 75% do pasto produzido acima
de 7,0cm seja colhido pelas vacas, pois isto refletirá no potencial produtivo e na rentabilidade do sistema.
Em termos de resposta produtiva das vacas ao manejo das pastagens, diversos trabalhos demonstram que o potencial produtivo de uma vaca é resultado primário da quantidade de energia consumida, estando este relacionado com o consumo total de forragem e com seu teor de energia digestível. A maximização do consumo de forragens de alto valor nutritivo é condição para obter-se alta resposta produtiva das pastagens.
Associada a estes indicadores, a obtenção de forragens com menor custo possível e de alta perenidade são fatores importantes para o planejamento e o manejo dos pastos.
A eficiência de pastejo é um fator muito importante a ser considerado quando do planejamento forrageiro e no planejamento do sistema de piquetes, com o objetivo de manejar as pastagens com eficiência. O número de piquetes a ser estabelecido se constitui num fator fundamental para o adequado manejo das pastagens. Os piquetes, quando bem planejados, permitem uma maior flexibilização do sistema, com ajuste adequado na oferta de pasto, a fim de maximizar o consumo com alta eficiência de pastejo, possibilitando a melhoria na produtividade das vacas e do sistema.
Em muitas situações de campo, técnicos e produtores enfrentam dificuldades para ajustar o correto manejo das pastagens com as exigências nutricionais da vaca leiteira. Muitas vezes isso se deve à falta de conhecimento sobre a real oferta de pasto e sua qualidade ou por condições climáticas adversas. Dessa forma, conforme a Figura 22, podem ocorrer erros de manejo, resultando em excesso da resteva e diminuição da qualidade forrageira, ou, também, excesso de pastoreio, o que acarretará a não cobertura total do solo e a possibilidade de germinação de plantas espontâneas.
A oferta e a qualidade do pasto estão diretamente correlacionadas com o planejamento do sistema de piquetes, destacando-se o correto dimensionamento dos piquetes (Oferta: kg Matéria Seca/UA/dia), o manejo adequado das pastagens, principalmente em relação à altura de entrada das vacas no pasto e sua altura de resíduo.
O número de piquetes deve ser estabelecido em função do intervalo entre pastejos no período de menores taxas de crescimento das pastagens. Em Santa Catarina, nas avaliações realizadas pela Epagri em nível de propriedade (Pesquisa Participativa), este período corresponde aos meses de abril e maio, quando as espécies avaliadas apresentam intervalo entre pastejos entre 28 e 35 dias para atingir as alturas ideais de pastejo (Figura 23).
É importante destacar que a vaca leiteira é a categoria animal com maiores exigências nutricionais. Por isso, elas não devem ser obrigadas a realizar um pastejo intenso a fundo, principalmente em pastagens com menor valor nutritivo. Preconiza-se, portanto, ofertar pastagens em quantidade e de alta qualidade, visando maximizar o consumo de forragens pelas vacas. Como as vacas leiteiras são manejadas duas vezes por dia, recomenda-se a utilização de dois piquetes por dia.