Esta é uma série, que traz trechos da publicação Boletim Técnico 199, da EPAGRI (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina), Do pasto ao leite: uma atividade rentável e sustentável, Como produzir 18 mil litros de leite por hectare.
A melhoria da fertilidade e da qualidade do solo são condições fundamentais para o aumento da produtividade e da longevidade das pastagens. Solos com alta fertilidade, elevado teor de matéria orgânica e estrutura adequada apresentam maior capacidade de absorção, armazenamento e retenção de água, fatores fundamentais para que as pastagens apresentem maior capacidade de resiliência, ciclos produtivos mais longos, com alta produtividade e longevidade.
Dois fatores são essenciais para obtermos pastagens com alta produtividade e alto valor nutritivo: um relaciona-se à correção da fertilidade do solo, fundamental ao rápido estabelecimento e para a produção inicial das espécies forrageiras, principalmente as perenes; o outro fator se relaciona à melhoria sistêmica da fertilidade e das características relacionadas à qualidade do solo que são associadas ao manejo adequado dos animais, ao uso eficiente de máquinas e equipamentos e, principalmente, ao manejo adequado das adubações de manutenção.
O primeiro fator é passível de correção de forma mais acelerada, destacando-se as correções dos índices de pH e fósforo (P), de acordo com análise de solo, as quais proporcionarão melhores condições às pastagens para seu rápido estabelecimento e maiores capacidades de competição.
O segundo fator tem uma condicionante associada ao período de pastejo. Ao longo do tempo em que as pastagens estiverem estabelecidas, o sistema de pastoreio requer o pisoteio por um curto período, seguido de longo período de descanso, possibilitando adequada cobertura do solo e rápida regeneração das pastagens. Uma das causas da compactação superficial do solo é consequência da acentuada pressão exercida repetidas vezes pelas patas dos animais, que é ocasionada pelo longo tempo de permanência das vacas no piquete e/ou associada ao alto teor de umidade no solo.
A adubação de reposição visa repor partes de nutrientes exportados do sistema e/ou perdas que podem ter ocorrido, o que pode resultar no aumento gradativo dos teores de nutriente no solo. Essa adubação tem importante função nas transições das forragens, fundamentalmente durante a sobressemeadura (transição de pastagens de verão para de inverno), quando se indica maior percentual da quantidade total a ser utilizada anualmente (cerca de 60%), bem como na transição da produção de pastos de inverno para o rebrote das pastagens perenes de verão para alcançar o mais rápido estabelecimento e a ótima produção.
A adubação nitrogenada (N) se encontra dissociada das outras, tanto pela maior quantidade necessária desse nutriente às altas produções, quanto pela maior dinâmica do nitrogênio no solo. O parcelamento dessa adubação é importante para acelerar o desenvolvimento inicial e a produção das forragens, assegurar melhor eficiência de absorção das plantas e diminuir os riscos ambientais ligados ao nitrato em excesso.
Em relação ao manejo animal é fundamental que os animais permaneçam dentro do piquete o máximo de tempo possível, saindo dali somente para o sistema de ordenha ou para outro piquete. Em termos de manejo recomenda-se que, no momento de retirada dos animais do piquete, o produtor deve movimentar os animais e esperar por 10 a 15 minutos e, somente após este tempo, permitir que os animais saiam do piquete. A associação destas práticas possibilita que os animais devolvam ao solo, através do esterco e na urina, cerca de 70% do N, 80% do P, 90% do K e 95% dos micronutrientes (MONTEIRO & WERNER, 1989; citado por SÓRIO, 2006).
Afora a compactação do solo pelas patas dos animais e o alto teor de umidade no solo, a principal causa de alterações de atributos ligados à qualidade do solo se dá pela utilização de máquinas e equipamentos agrícolas. Em relação à utilização de máquinas e equipamentos, três aspectos devem ser considerados.
O primeiro se relaciona ao momento de sua utilização, devendo-se observar a umidade do solo, sempre procurando que quaisquer manejos sejam realizados com o solo seco, evitando-se assim problemas relacionados à compactação do solo e o surgimento de plantas espontâneas indicadoras.
O segundo se relaciona à intensidade do uso de máquinas e equipamentos dentro do sistema. Com o uso excessivo destas ferramentas ocorre um aumento da compactação do solo, tendo como consequência perdas na capacidade de infiltração de água e de ar. Isso impede o adequado desenvolvimento do sistema radicular das plantas e, consequentemente afeta sua produtividade e sua capacidade de resiliência em relação ao estresse hídrico.
O terceiro relaciona-se com as práticas agrícolas, buscando-se evitar o uso de práticas que agridam o solo ou que rompam a cobertura verde e mulching propiciado pelas pastagens.
Na Figura 24 A uma pastagem de Tifton 85 com nove anos de implantação e ao lado (Figura 24 B) com seis anos, sendo perceptível a boa exploração das raízes no perfil de solo, o adequado fechamento da superfície do solo e a deposição de material orgânico, principalmente nos 10cm superficiais. Ali se encontra o maior volume de raízes e matéria orgânica do solo, fundamental à menor dependência do sistema das condições climáticas.