César Augusto Alves, formado em Tecnologia em Produção de Leite pela Aglto New Zeland, trabalha na Nova Zelândia, numa fazenda com 1.060 vacas em lactação e produção atual de 25.000 mil litros de leite por dia.


Quando comecei a trabalhar com o sistema de pastejo rotacionado na Nova Zelândia achava tudo muito incrível, o tamanho dos rebanhos impressionava, o tipo de pastagem e como tudo era tão organizado com os piquetes parecendo campos de futebol, a atenção aos detalhes era outra coisa que me fazia pensar, por que no Brasil não era assim? 

Por um bom tempo eu achava que entendia o que estava acontecendo ali, as vacas iam para ordenha e eu dava a metade de um piquete para elas, e assim ia, ordenha meio piquete, ordenha meio piquete.

Lembro de telefonar para o meu tio no Paraná e dizer a ele para fazer uns piquetes e depois dividir no meio dando metade de manhã e a outra metade após a ordenha da tarde, certo que aquilo era o pastejo rotacionado neozelandês. Com certeza era melhor do que o sistema que ele usava, deixar o gado em piquete até elas raparem tudo e depois mover, as vezes o gado ficava 20 dias na mesma área.

Eu não quero que essa seja mais uma leitura longa e cansativa sobre o sistema rotacionado, vou direto ao ponto. 

Somente depois de um tempo aprendi que aquele rebanho enorme, era alimentado como indivíduos e que a escolha de cada piquete era realizada de acordo com uma combinação de volume de pasto e estágio de maturidade da planta, depois calculado demanda individual e as cercas móveis eram colocadas precisamente na área total que o rebanho precisava, deixando sempre para trás o resíduo ideal.

Foi então que descobri o segredo do pastejo rotacionado na Nova Zelândia, algo tão fácil e tão simples aos olhos de um leigo, e esse segredo era que os neozelandês conheciam o comportamento de sua planta muito bem ao longo do ano, sabiam exatamente a exigência dos animais e o que a pastagem podia oferecer naquela determinada estação do ano, aumentando e diminuindo a velocidade da rotação, fechando alguns piquetes para silagem, roçando pré ou pós pastejo, trazendo mais animais de outras categorias para pastejar o excesso, ou às vezes secando vacas mais cedo para diminuir a taxa de lotação e manter os custos baixos. 


Tudo isso era possível ser previsto com o monitoramento do clima, solo e desempenho da pastagem, com um acompanhamento semanal e em determinadas épocas do ano quase que diário. Imagina um pasto crescer o suficiente para produzir mais de 100 kg de matéria seca em um dia. Em uma grande fazenda com mais de 300 hectares de pasto isso pode sair do controle muito rápido e o produtor se pegar em uma situação onde ele está alimentando pastagem passadas do ponto ideal de entrada com valor nutricional da planta muito baixo devido o início da produção de sementes.

Esse é o conhecimento que temos que ter com nossas pastagens no Brasil, conhecer o comportamento das nossas plantas e antecipar esses problemas com técnicas de manejo preventivo, diminuir a área da rotação, incluir ou diminuir os animais na área ou roçado pré e pós pastejo, sermos capazes de balancear a dieta a pasto sem desperdício e sem deixar os animais mal alimentados.


Um dia desses um seguidor do meu Instagram me fez uma pergunta em uma postagem sobre pastejo rotacionado, disse ele: “supondo que eu tenha 15 hectares de Tanzânia, quantas vacas posso ter por hectare? Vejo que essa é a maior preocupação do produtor de leite no Brasil, quantos animais posso colocar por hectare, e esquece que o importante é quantos animais posso alimentar com qualidade com a pastagem que tenho e se necessário adicionar suplementos para balancear a dieta de uma forma lucrativa, pois o objetivo desse sistema é baixar os custos para trazer mais renda.

Enquanto não conhecermos nossas pastagens como os neozelandeses conhecem as deles, vamos viver nesse dilema de dezenas de variedades por aí e nem uma sendo dominada, tornando o pastejo rotacionado um bicho de sete cabeças, propriedades que até conseguem uma alta taxa de lotação 10 a 15 animais por hectare, mas com uma produção baixa e com custo alto. 

Como desvendar esse segredo no Brasil? Veja que o sistema rotacionado pode ser aplicado para 1 única vaca, mas aí o produtor diz: Pra que isso! Com 1 vaca eu largo ela no pasto e ela come o que quiser. Bem ele está certo, ela come o que quiser inclusive o lucro dele. Observe que o gado no pasto também precisa de uma dieta balanceada e que ela tem sua limitação de conversão de pasto em leite, o desperdício de pasto é dinheiro jogado fora.


A ideia atrás de planejar esse sistema como se fosse para uma única vaca, é de maximizar a precisão, vamos fazer tudo pensando em um único indivíduo e então replicar esse cálculo para o número do rebanho e limitar a área a essa conta, nem mais nem menos. 

Então vai surgir outro problema, água. Quando estive no Brasil viajando com um grupo de neozelandeses para conhecermos algumas propriedades de leite a pasto no Brasil, foi unânime nossa observação, mesmo em propriedades que faziam tudo certo com o pasto, cometiam um grande erro de não ter água na área que estava sendo pastejada, algumas tinha o cocho na frente do piquete outras no corredor, uma só tinha água perto da ordenha, geralmente quando o gado ia beber água não voltava para o pasto ou quando voltava ficava comendo a rebrota. 

Na Nova Zelândia se tem em média 1 bebedouro a cada 2 a 3 hectares isso porque como os rebanhos são grandes essa é a área utilizada na subdivisão dos piquetes. Em pequenas propriedades no Brasil eu recomendaria bebedouros móveis, simples de fazer e de relativo baixo custo, a água tem que fazer parte junto com a rotação dos piquetes.

Talvez isso tudo se pareça complicado, mas na verdade depois que se passa a conhecer a planta que você escolheu para o seu rotacionado, quanto ela cresce por dia, valores nutricionais, ponto ideal de entrada e saída e você começa a calcular tudo para um único animal e depois só multiplica para o tamanho do seu rebanho, só vai te restar disponibilizar água em abundância para seu rebanho na área pastejada.