Essa é uma reprodução do Anuário do Leite 2022 da Embrapa. Por Luiz Antônio Aguiar de Oliveira e Glauco Rodrigues Carvalho.
É cada vez mais clara a tendência de preços mais elevados neste ano para milho, soja, combustíveis e fertilizantes, impondo grandes desafios para os produtores de leite no Brasil e no mundo.
Os preços dos insumos da atividade leiteira seguem elevados em 2022. A escalada nas cotações tiveram forte impacto no aumento dos custos de produção de leite no período 2020-2021 e, neste ano, segue com tendência altista por diversas razões: fatores climáticos causando quebra da safra de grãos na América do Sul, estoques globais de milho e soja ainda baixos, câmbio desvalorizado, oferta de fertilizantes limitada e petróleo com cotação em alta, entre outros.
Farelo de soja, milho, energia, combustíveis e fertilizantes são insumos que compõem a maior parcela do custo operacional efetivo na produção de leite. O aumento de preços dessas commodities influencia inclusive o aumento de preços de outros produtos, não apenas os de proteína animal, mas também os de grãos e de oleaginosas.
Ao analisar milho e soja, por exemplo, nota-se que o clima alterou as perspectivas de produção brasileira de ambos para a safra 2021/22. As previsões iniciais da CONAB-Companhia Nacional de Abastecimento indicavam, em dezembro de 2021, safras chegando a 117,2 milhões de t de milho e 142,8 milhões de t para a soja. Já no relatório da Conab de fevereiro de 2022, as estimativas recuaram para 112,3 milhões de t de milho e 125,5 t de soja, representando decréscimo de 4% para o milho e 12% para a soja. No caso da soja, as perdas foram significativas, com corte superior a 17 milhões de t.
No caso do milho, houve perdas na safra de verão, mas ainda temos a safra de inverno, que é a maior do país. Por enquanto, o clima está ajudando e o plantio segue evoluindo em ritmo satisfatório, o que pode auxiliar para cotações menos pressionadas no segundo semestre. Mas o primeiro semestre será de oferta mais limitada.
De acordo com os dados divulgados pela Conab, a atual previsão da safra de soja no Brasil 2021/22 aponta para queda de 12,3% na produtividade, com 3.091 kg por ha contra 3.525 da safra 2020/21. A produção da safra 2021/22 sofrerá redução de 9,2%, resultando em 125,5 milhões de t, enquanto a de 2020/21 foi 138,2 milhões de t. O estoque final sofrerá redução de 50% ficando em torno de 2,7 milhões de t (figuras 1, 2 e 3).
CLIMA COMPROMETEU SAFRAS DE MILHO E SOJA, INFLUENCIANDO SUAS COTAÇÕES
O balanço de oferta e demanda de fevereiro de 2022 da Conab prevê que a produção de farelo de soja recuará 6%, ficando em 34,7 milhões de t (figura 4) e o estoque final reduzirá em 18%, para 2,7 milhões de t (figura 5). Esses problemas climáticos e o recuo previsto nos estoques finais acabaram mexendo com o mercado. O preço médio do farelo de soja voltou a subir forte no final de 2021 e no início de 2022, como pode ser observado na figura 6, segundo dados do DERAL-Departamento de Economia Rural do Paraná.
Para o milho, a atual previsão da Conab para a safra total do Brasil em 2021/22 indica aumento de produtividade em 23,1%, chegando a 5.376 kg por ha contra 4.367 kg da safra 2020/21. A estimativa da produção total de milho 2021/22 será 29% superior à da safra 2020/2021, que foi de 87,1 milhões de t. O estoque final 2021/22 será maior em 29% com relação ao estoque 2020/21, ficando em torno de 10,1 milhões de t (figuras 7, 8 e 9).
Efeitos climáticos negativos resultaram em quebra de produção na 1ª safra de milho, influenciando suas cotações. Com isso, seu preço voltou a subir no final de 2021 e manteve a tendência no início de 2022, conforme pode ser observado na figura 10. Contudo, se as previsões da safra de inverno se concretizarem, haverá aumento de oferta, o que poderá ser um fator para a redução de preços.
Estas revisões de produção de safras refletem os problemas climáticos que ocorreram em algumas regiões produtoras, o que prejudicou o desenvolvimento de lavouras, como sucedeu com a safra de verão de milho no Brasil. O clima prejudicou também as safras de soja, resultando em grandes perdas na região Sul e parte do Mato Grosso do Sul, além de perdas da safra de soja no Paraguai e na Argentina.
Relatório da USDA (United States Department of Agriculture) informa que a estimativa de produção de soja foi reduzida em 4,5 milhões de t, passando para produção final de 45 milhões de t, número que deverá ser ainda menor. Por se tratar de um dos principais exportadores do complexo soja, a redução da safra da Argentina exercerá pressão nos mercados, com consequente aumento dos preços internacionais.
COMBUSTÍVEIS E FERTILIZANTES COM FORTE ALTA NO MERCADO INTERNACIONAL
No caso dos combustíveis, o petróleo vem se valorizando no mercado internacional e desencadeando aumento do frete, fertilizantes, óleo diesel e diversos outros produtos e serviços. A cotação do petróleo WTI-NY, após recuar para próximo de US$ 20/barril no início de 2020, registrou escalada nos meses seguintes, conforme ilustrado na figura 11.
No Brasil, o preço dos combustíveis é reajustado com base na referência internacional mais o efeito da taxa de câmbio. O valor do barril de petróleo em alta e o real desvalorizado têm pressionado os preços dos combustíveis, com impactos relevantes nos custos de produção de leite.
Com relação aos fertilizantes, a situação é também bastante complicada, com forte alta no mercado internacional e baixa disponibilidade do produto para exportação. Grandes produtores, como Rússia e China, estão priorizando seus fertilizantes para uso doméstico ao invés de exportação. Isso acabou pressionando ainda mais as cotações internacionais.
Por aqui, a alta dependência de importação desses produtos, somada ao câmbio mais desvalorizado e forte elevação nos fretes marítimos internacionais, fizeram com que os preços no mercado brasileiro tivessem expressiva valorização. Somente para ilustrar, a figura 12 apresenta o gráfico de variação de preços da ureia e do cloreto de potássio de janeiro a novembro de 2021. Nesse período, o preço da ureia subiu 154% e o do cloreto de potássio, 192%.
Diante desse cenário, a tendência é de manutenção de preços mais elevados em 2022, impondo, assim, grandes desafios para os produtores de leite do Brasil e do mundo.