Esta é uma série, que traz trechos da publicação Boletim Técnico 199, da EPAGRI (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina), Do pasto ao leite: uma atividade rentável e sustentável, Como produzir 18 mil litros de leite por hectare.

Silagens

Ao planejar o sistema produtivo, quando possível, as áreas mais distantes do estábulo devem ser utilizadas para produção de silagens e pastagens anuais de inverno.

Além das áreas com pastagens perenes onde foi feita sobressemeadura, existe a necessidade de outra área para complementar a necessidade de pastagem no período de outono/inverno.

O cálculo das necessidades de silagens relaciona-se com a estrutura produtiva da propriedade, o número de UA por área, o ciclo produtivo das pastagens e seu potencial produtivo e o potencial produtivo da cultura a ser ensilada. Normalmente as culturas de milho e/ou sorgo são as mais utilizadas para a produção de silagens.

Para fins de planejamento é possível estabelecer como parâmetros médios as silagens de milho, com potencial produtivo de 45 a 50 toneladas, e de sorgo com potencial de 50 a 60 toneladas de massa verde por hectare.

A planilha de planejamento forrageiro calcula automaticamente estas necessidades em função do balanço entre necessidades de consumo forrageiro e produção de pastos.

É importante que os silos sejam planejados o mais próximo possível do estábulo, visando facilitar a mão de obra do produtor e a manutenção da qualidade da silagem.

Nas áreas utilizadas para pastagens anuais de inverno e para produção de silagem no verão, devem-se ter alguns cuidados:

* Sempre que possível usar sistema de plantio direto na cultura do milho e cultivo mínimo na implantação das pastagens anuais de inverno (Figura 34);

* Após o último pastejo, adubar a pastagem e dar um intervalo para fazer o plantio direto da cultura de verão;

* Quando da ensilagem, a altura de corte da planta de milho, deve ser logo abaixo da última folha verde, deixando-se um resíduo de colmo com no mínimo 40 centímetros de altura;

* Sempre que for possível, não utilizar a mesma área para produção de pastagens anuais de inverno e produção de silagem por vários anos, fazendo rotação entre áreas dentro da propriedade.

Feno

Um dos fundamentos do porquê produzir e conservar forragens em sistemas de produção de leite à base de pasto se dá com o objetivo de transferir excedentes produtivos das pastagens do período primavera-verão para outras épocas do ano, quando a oferta de pastos é baixa. Isto permitirá cobrir os vazios forrageiros nos períodos críticos, possibilitando manter uma carga animal constante ao longo do ano.

A conservação de forragens é um elemento importante que deve ser considerado como uma parte fundamental no planejamento forrageiro e no programa nutricional, visando atender as necessidades nutricionais dos animais.

Obter alta qualidade em qualquer sistema de conservação de forragens que se utilize (feno ou ensilagem de pasto) permitirá intensificar o sistema produtivo, obtendo maior produtividade de leite e carne por unidade produtiva, seja por vaca, seja por área.

Analisando as curvas médias de produção de pastagens, nas condições de Santa Catarina, observa-se que estas apresentam uma forma bastante irregular.

Observam-se níveis de produção elevados em épocas bem marcadas do ano, alternando com períodos nos quais a produção é escassa ou mesmo nula, particularmente no período outono-inverno.

No período primavera-verão, a conjugação dos fatores umidade, temperatura e radiação proporciona condições para um ativo crescimento e o desenvolvimento das pastagens. Nesta época as pastagens perenes de verão atingem o seu pico máximo de produção, no qual a oferta alimentar geralmente estará acima das necessidades dos animais. Em contrapartida, no período outono-inverno, na maioria dos anos, há a necessidade de suplementação com alimentos conservados. Este período varia de 3 a 5 meses, com maiores ou menores necessidades, e permanece na dependência das condições climáticas, da estrutura de rebanho e do planejamento forrageiro adotado. Portanto, em sistemas produtivos intensivos, a conservação de forragens ocupa uma posição muito importante na estratégia do planejamento alimentar ao longo do ano.

O uso de pastagens perenes de verão, consorciadas e sobressemeadas com pastagens anuais de inverno, mesmo com níveis de produção mais elevados no inverno, não consegue, contudo, atender a demanda de forragem necessária para um sistema produtivo com alta lotação por área. É necessário, então, na execução do planejamento forrageiro, prever determinada quantidade de forragem a ser conservada, de acordo com a estrutura de rebanho e por um período de 90 a 120 dias.

A conservação de forragens é a forma mais eficiente e econômica de assegurar ao longo do ano uma maior estabilidade na oferta de forragem para manter a produtividade e a rentabilidade. Ela nos permite diminuir os riscos de não haver alimentos volumosos em qualidade e quantidade suficientes nas estações desfavoráveis ao crescimento das pastagens e manter uma carga animal média constante ao longo do ano.

O feno pode ser definido como a forragem que sofreu processo de desidratação até atingir o teor de umidade que permite manter-se estável nas condições ambientais. A conservação de forragens na forma de feno visa minimizar os processos biológicos, inibir as atividades enzimáticas – sobretudo, a respiratória – e inibir o desenvolvimento de microrganismos. Para isso, o teor de umidade da forragem a ser armazenada na forma de feno deve estar na faixa de 15 a 20% de umidade.

O feno é um alimento que deve ter muito boa qualidade, principalmente quando fornecido para animais jovens e vacas em lactação. Algumas características importantes para avaliar a qualidade do feno são:

* Alto valor nutritivo, com alta digestibilidade e palatabilidade;

* Alta relação folha/colmo; Cor verde;

* Sem a presença de ervas daninhas e plantas tóxicas;

* Livre de fungos e/ou bolores;

* Odor agradável.

Atenção: “A qualidade da forragem conservada nunca será superior ao material que lhe deu origem”.

Por esta razão, para elaborarmos um feno de alta qualidade, é imprescindível partir de uma forragem de alta qualidade, antes de decidir qual o melhor destino para a forragem.

A fenação é uma técnica de conservação de forragens extremamente versátil, pois, desde que o feno seja armazenado adequadamente, apresenta as seguintes vantagens:

- Feno pode ser feito com equipamento simples e uma vez que foi devidamente preparado é fácil de transportar, armazenar e alimentar o gado, com o mínimo de desperdício;

* Pode ser armazenado por longos períodos com pequenas alterações no valor nutritivo;

* Grande número de espécies forrageiras pode ser usado no processo;

* Pode ser produzido e utilizado em grande e pequena escala;

* Pode ser colhido armazenado e fornecido aos animais manualmente ou num processo inteiramente mecanizado;

* Pode atender o requerimento nutricional de diferentes categorias animais;

* A distribuição de feno aos animais é fácil, as sobras poderão ser reaproveitadas, o que não ocorre com a silagem;

* A quantidade necessária para um animal ou rebanho também é fácil de ser calculada;

* O feno é um alimento importante no ajuste das dietas de animais de alta exigência como as vacas em lactação e as terneiras.

O Feno é fonte de fibra longa, importante fator relacionado à saúde ruminal e à menor incidência de distúrbios digestivos, como deslocamento de abomaso, a acidose subclínica, a incidência de problemas de cascos, como as laminites. Além disso, permite a produção de leite com maiores teores de sólidos, principalmente maior teor de gordura.

Como desvantagens, podem-se citar:

* O elevado custo de aquisição de máquinas e equipamentos;

* Equipamentos com dimensões inadequados às características da pequena propriedade;

* Elevado custo com mão-de-obra por quilo de feno produzido em pequenas propriedades;

* •A fenação apresenta grande dependência dos fatores climáticos, principalmente em relação à radiação solar, umidade relativa do ar e a incidência de chuvas;

* A qualidade do feno é extremamente variável, entre e dentro das diferentes espécies de forragem.

Para escolha da planta a ser fenada, deve-se levar em consideração diversos fatores, como o potencial produtivo da forrageira, sua qualidade, a tolerância ao corte, a capacidade de rebrote, a adaptação edafoclimática, o valor nutritivo, além da facilidade de corte e secagem (GOMIDE, 1980), além de sua competitividade com invasoras e a sanidade.

A análise destes fatores e sua importância são fundamentais para a correta escolha das espécies forrageiras a serem recomendadas para produção de feno de alta qualidade.

Importante: Forrageiras de crescimento prostrado, com colmos finos e alta relação folha/colmo, apresentam maior facilidade de secagem.

Várias são as forrageiras passíveis de serem fenadas e as mais adequadas são: Cynodons (Jiggs, Coast-cross, Tifton-85), Missioneira-gigante, Kikuio, Azevém, pastagens consorciadas com estas espécies e leguminosas como a Alfafa. Dentre as espécies e variedades destaca-se o Tifton 85 como pastagem que apresenta maiores vantagens, tanto nos aspectos de produção, quanto no valor nutritivo e na fenação (Figura 35).

As áreas destinadas à produção de feno devem ter acesso fácil, ser planas e possuir relevo favorável ao tráfego de máquinas e implementos. O solo deve ser bem drenado e não propenso ao encharcamento, mesmo que esporádico, pois a maioria das espécies forrageiras não tolera umidade excessiva.

O campo de feno deve ser destocado, sem troncos de árvores, livre de pedras, tocos, galhos, pedaços de madeira, plásticos, arames, metais, formigueiros e cupinzeiros ou qualquer outro material que comprometa a qualidade do feno ou

cause danos aos equipamentos ou impeçam sua trafegabilidade, com paralisações frequentes. A superfície do solo deve ser nivelada, sem a presença de torrões, valetas e buracos. Esses fatores, além de afetar negativamente a qualidade do feno, a eficiência dos implementos e a rapidez do processo, influenciam também a produção forrageira. Solo com boa fertilidade e livre de acidez é fator básico para a produtividade, a qualidade forrageira e a longevidade do campo de feno. Portanto, é necessário que seja corrigido e fertilizado com frequência.