Esta é uma série, que traz trechos da publicação Boletim Técnico 199, da EPAGRI (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina), Do pasto ao leite: uma atividade rentável e sustentável, Como produzir 18 mil litros de leite por hectare.
É sabido que a água se constitui no recurso de menor custo na atividade leiteira, sendo fundamental não torná-la um fator limitante. Uma adequada administração de água é fundamental para maximizar o desempenho reprodutivo e produtivo das vacas leiteiras, pois elas exigem, além das suas necessidades de manutenção, cerca de 4,0 a 4,5 litros de água a mais por litro de leite produzido.
A oferta insuficiente de água em quantidade e qualidade pode afetar a produção de leite, o crescimento e a saúde dos animais. Na Tabela 7 é possivel verificar a necessidade de água por categoria animal e em função da temperatura.
Para fins de planejamento, a quantidade de água a ser disponibilizada ao rebanho deve ser calculada considerando o requerimento de cada categoria animal, conforme segue:
* Vacas lactação: 100 litros/dia;
* Vacas secas: 70 litros/dia;
* Novilhas: 40 litros/dia;
* Terneiras: 15 litros/dia.
Em períodos quentes, quando os requerimentos são maiores, a restrição de consumo tem efeitos imediatos, podendo reduzir em mais de 25% a produção de leite. O abastecimento de água deve ser aumentado em 30 a 50% durante o verão.
Em relação ao comportamento animal e o consumo de água, as vacas dedicam entre 20 e 30 minutos por dia para beber e podem realizar o ato entre 4 a 10 vezes diárias, dependendo do teor de umidade dos alimentos e da temperatura ambiental.
As vacas tendem a consumir cerca de 40% das suas necessidades diárias de água, logo após as ordenhas da manhã e da tarde e na saída da sala de ordenha. Os outros 60% deverão ocorrer durante a fase de pastejo e descanso. Neste período as vacas apresentam ciclos de alimentação/consumo de água.
Os investimentos num sistema de água artificial são relativamente altos nas propriedades que necessitam recalque de água (bombeamento, reservatório, encanamento, bebedouros etc.). Entretanto, seus custos fixos são relativamente baixos em função da vida útil do sistema, sendo diluídos ao longo do tempo. Sua vida útil está dependente do adequado planejamento do sistema, da qualidade dos materiais utilizados, bem como dos cuidados na sua execução.
Dimensionamento da rede de distribuição de água
A vazão dos bebedouros se constituiu num dos principais aspectos técnicos que influenciam no fornecimento adequado às vacas leiteiras. Tem como objetivo principal evitar a restrição de água nos momentos de pico de consumo, evitando um tempo longo de enchimento e renovação da água e está associado ao dimensionamento correto do sistema. Recomenda-se que a vazão não seja inferior a 15 litros por minuto. Estima-se que para cada 2 litros/minuto de vazão, necessita-se de 1mca de pressão (1 metro de altura de coluna de água). Portanto, para obter 15 litros por minuto de vazão necessitar-se-ia de 7,5mca de pressão.
É possível relacionar que, quanto maior a pressão, mais vazão; quanto maior o diâmetro dos canos, mais vazão; e, quanto menor a distância entre o depósito de água e o bebedouro, mais vazão.
Em muitas situações é possível atender estes índices, utilizando-se um cano de distribuição de água (rede principal) com diâmetro mínimo de 25mm e, nas linhas derivativas, utilizando um cano com diâmetro de 19,05mm.
Dimensionamento de bebedouros
O cálculo do tamanho do bebedouro é realizado conforme o tamanho do lote e segue a relação de perímetro/animal. Para lotes entre 30 e 60 vacas pode-se utilizar a proporção de 1:10, ou seja, 10 centímetros de perímetro por vaca.
Dentro dos diversos tipos de bebedouros, deve-se dar preferência aos bebedouros circulares, pois estes oferecem uma melhor relação entre superfície e volume, bem como um melhor acesso para as vacas (Figura 36).
Se o nosso lote de vacas em lactação é de 48 vacas, necessitaríamos de um bebedouro com perímetro de aproximadamente 480cm. Se o bebedouro a ser utilizado for um circular, o raio deve ser de 75cm.
De certa forma, o dimensionamento dos bebedouros obedece à relação entre a disponibilidade de água pelo número de animais com acesso ao bebedouro. Segundo Looper & Waldner (2002) os bovinos possuem maior afeição por bebedouros mais rasos, com água limpa, os quais permitem a visualização do fundo.
A altura do bebedouro também não deve superar a 60% da altura das cruzes do animal. Outro fato é que estes animais preferem consumir a água com temperatura entre 25 e 30ºC, tendendo a diminuir o consumo quando a temperatura da água está abaixo de 15ºC. Em função desses fatores é recomendável que os bebedouros tenham, para vacas leiteiras, uma altura ao redor de 70cm e apresentem uma profundidade de água entre 30 e 50cm.
Observações de campo têm demonstrado que o espaçamento inadequado (área livre) ao redor do bebedouro pode afetar o consumo de água dos animais.
Na realidade, o que ocorre é que vacas dominantes costumam ocupar sempre a extremidades dos bebedouros, impedindo que suas companheiras submissas se aproximem do mesmo. Quando instalamos bebedouros em passagens ou corredores estreitos, facilitamos e estimulamos o comportamento indesejado das vacas dominantes, pois aumentamos seu raio de ação e poder de intimidação perante as dominadas.
O planejamento do sistema de distribuição e armazenagem de água para as vacas deve ser feito para cada propriedade, sempre pensando na melhor alternativa de captação de água, preferencialmente superficial (menor gasto energético e impacto ambiental), com a armazenagem no ponto mais alto do terreno, de forma que toda a distribuição seja realizada por gravidade.
A capacidade de armazenamento deve ser para o mínimo de três dias, de forma que, se houver qualquer problema na captação da água, há tempo hábil de resolvê-lo. Para a propriedade em questão, como visto anteriormente, 60 vacas (48 vacas em lactação e 12 secas), 18 novilhas e 24 terneiras, tem-se:
* Vacas lactação: 100 litros/dia x 48 vacas x 3 dias = 14.400 litros;
* Vacas secas: 70 litros/dia x 12 vacas x 3 dias = 2520 litros;
* Novilhas: 40 litros/dia X 18 novilhas x 3 dias = 2160 litros;
* Terneiras: 15 litros/dia x 24 terneiras x 3 dias = 1080 litros.
No total o consumo diário ficará em média de 6.700 litros por dia, necessitando um armazenamento com caixa de água de no mínimo 20 mil litros.
As linhas de distribuição devem ser definidas após o planejamento da estrutura de piquetes, seguindo a mesma, de forma a estabelecer os pontos de bebedouros o mais uniformemente possível, aproveitando um ponto de distribuição de água para cada interseção de 4 piquetes. Reduzem-se assim os custos de implantação, já que cada linha (corredor) pode ter apenas um bebedouro móvel, onde cada ponto de água atende até quatro piquetes. Utilizam-se mangueiras trançadas (mangueira de jardim com mínimo de 15 metros) na mesma espessura dos ramais de distribuição, para que o bebedouro atenda os 4 piquetes, conforme a Figura 37.
O uso de bebedouros móveis permite que a cada pastoreio ele seja colocado em local diferente, de modo a evitar a degradação da pastagem e a formação de lama dentro dos piquetes. Mas é importante que a sua disposição nunca fique nos cantos, mas sempre em linha reta, permitindo apenas que os animais acessem a fim de evitar a quebra da conexão da mangueira com o bebedor e possibilitar a saída para os dois lados de animais submissos (Figura 38).