Guilherme Oliveira Rezende Carvalho é Médico Veterinário formado na UNA Bom Despacho, atualmente trabalha com assistência gerencial e reprodução na pecuária leiteira.
O chamado pré-parto refere-se a um manejo desenvolvido com as fêmeas bovinas entre 21 e 30 dias antes do parto previsto, sendo de grande valia para adaptação dos animais para a próxima lactação e para profilaxia de distúrbios metabólicos, como deficiência de cálcio, edema de úbere, acidose, cetose, retenção de placenta, dentre outros.
Sabe-se que nas últimas semanas de gestação, as fêmeas bovinas apresentam uma redução na ingestão de matéria seca, fato esse ligado ao espaço ocupado pelo útero na cavidade abdominal. O mesmo ocorre após o parto, estando agora associado a dor do parto e cuidado com a cria.
São por esses motivos que nesse período, vacas e novilhas perdem peso, ou seja, elas comem pouco e passam a utilizar as suas reservas de gordura para suprirem as suas necessidades fisiológicas, alimentar o feto, produzir colostro e leite. Dessa forma, qualquer fator que agrave esse balanço energético prejudicará positivamente o desempenho da fêmea bovina.
Foi visando minimizar tais problemas que o manejo pré – parto foi criado, todavia em pleno século XXI ainda há um grande preconceito em adotá-lo, talvez por questões culturais ou por achar que acarretará prejuízos de ordem econômica.
Animal com score de condição corporal 5 (muito gorda) próxima do parto. Condição inadequada, mas enxergada como boa por muitos produtores.
Muitos acreditam que as vacas devem parir gordas ou engordar no período seco, assim como ingerir o pior tipo de alimento e até mesmo altos níveis de minerais impróprios para a categoria, contudo, estão errados, pelos seguintes motivos:
1) Vacas que parem gordas, metabolizam exageradamente a sua gordura corporal, o que sobrecarrega o fígado, podendo ocasionar duas síndromes no pós-parto, a cetose e a síndrome do fígado gorduroso, além de comprometer a expulsão dos anexos placentários e o desempenho produtivo e reprodutivo na lactação que se inicia. Logo o ideal, é que elas parem nem magras nem gordas, ou seja, com escore de condição corporal de 3,5.
2) A ingestão de alimento já é baixa nas proximidades do parto, e se comerem o pior alimento, o que aproveitarão? Quase nada. Além disso, o fornecimento de ração própria para categoria e com baixa densidade energética é bem-vindo, podendo ser adquirida comercialmente ou formulada por um técnico, sendo essencial para adaptação da flora ruminal para a nova lactação. Esse manejo auxilia na profilaxia de todas as afecções metabólicas.
3) Vacas na reta final de gestação não podem ingerir mineral de vaca em lactação ou de gado solteiro, inclusive sal comum, pois eles são ricos em cargas iônicas positivas que tendem a elevar o pH sanguíneo, o que afeta o metabolismo do cálcio, predispondo a hipocalcemia. Já o sal comum, retém líquido, acarretando inchaço abusivo do úbere. Portanto, a dieta aniônica é bem-vinda.
Dessa forma, fica claro que os erros de manejo com animais prenhes, além de predisporem as doenças, os animais têm um déficit produtivo e reprodutivo, acarretando assim, prejuízos que vão além de despesas com medicamentos e médicos veterinários.
E para finalizar, as características desejáveis de um pré-parto envolvem: área com boa visibilidade, de preferência próxima ao curral ou a sede; água de boa qualidade; sombreamento artificial ou natural, respeitando 4m² por animal; boa cobertura vegetal e não ser muito grande.
Novilhas no pré-parto, com score de condição corporal próxima 3,5.