Esta é uma série, que traz trechos da publicação Boletim Técnico 199, da EPAGRI (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina), Do pasto ao leite: uma atividade rentável e sustentável, Como produzir 18 mil litros de leite por hectare.
O calor determina uma redução na ingestão de alimentos dos animais, afeta o status endócrino das vacas, reduz o tempo de ruminação e a absorção de nutrientes, além de elevar os requerimentos para mantença dos animais, o que resulta em menor disponibilidade de nutrientes e energia para as funções produtivas e reprodutivas.
A exposição das vacas em lactação à radiação solar e a temperaturas acima de 25ºC está associada com redução na produção de leite. Além disso, vacas sem sombra apresentam uma grande e imediata diminuição na produção de leite (aproximadamente 33%), sendo que as vacas maiores e com maior produção sofrem proporcionalmente maiores perdas.
Segundo Carvalho et al. (2002), as árvores possibilitam rebaixamento da temperatura na ordem de 6 a 8°C, através dos efeitos de evapotranspiração, promovem a harmonização da umidade relativa do ar, melhoram a circulação de ar e diminuem a velocidade do vento (Figura 39).
Além de proporcionar conforto animal, a arborização de pastagens pode promover a conservação e a melhoria da qualidade do solo por favorecer o controle da erosão, a ciclagem de nutrientes e adição de matéria orgânica. Também estimula a utilização da radiação solar mais eficientemente e a captura de nutrientes e umidade do solo em diferentes profundidades, reduzindo a dependência de entradas externas de nutrientes ou estabelecendo melhor relação custo/benefício. Estes aspectos irão influenciar positivamente na qualidade da forrageira e, portanto, novamente no bem-estar animal (PORFÍRIO-DA-SILVA, 2007).
A sombra deve ser proporcionada aos animais, principalmente no horário das 10h às 15h, nas épocas mais quentes do ano. As raças leiterias têm níveis de tolerância ao estresse térmico diferentes, isso deve ser observado para o planejamento do sistema de produção.
O adequado planejamento de um sistema com sombra nos piquetes através do plantio de árvores é um método barato e eficiente de diminuir os efeitos negativos da radiação solar, com a redução dos ventos, diminuição da temperatura ambiente, maior umidade relativa do ar e umidade no solo.
Considerando estes aspectos, podemos concluir que a implantação deste sistema possibilitará gerar ganhos econômicos no sistema de produção de leite baseado em pastagens perenes.
A escolha das espécies arbóreas a serem utilizadas no sistema deve levar em conta preferencialmente a disponibilidade de tecnologia de produção da floresta. Deve considerar a arquitetura da planta a fim de possibilitar o fornecimento da sombra e sem prejudicar o desenvolvimento da pastagem implantada. Espécies arbóreas como o eucalipto apresentam arquitetura de planta que favorecem a luminosidade para o interior do sistema, possibilitando o desenvolvimento da pastagem (PORFÍRIO-DA-SILVA, 2007).
A forma de distribuir as árvores na pastagem influencia a dispersão dos excrementos dos animais e, consequentemente, dos nutrientes (FERREIRA, 2010). Os animais permanecem maior tempo sob a sombra durante os dias quentes, o que faz com que a maior parte das fezes e da urina excretadas por estes animais concentrem-se nesse solo localizado sob as árvores. As árvores podem ser distribuídas nas pastagens de diversas formas, como: em quebra-ventos (linhas periféricas), cercas vivas, corredores forrageiros, bosques, em linhas (simples, duplas ou mais) e/ou dispersas aleatoriamente (CARVALHO ET AL., 2002), a depender de como o proprietário quer explorar essa produção secundária (Figura
40).
Além de proporcionar sombreamento nos piquetes, a oferta de água e o manejo do pastejo dos animais em horários de temperaturas mais amenas pode contribuir com os resultados zootécnicos da propriedade.
Além disso, é importante ressaltar que, ao arborizar uma pastagem, o plantio do componente florestal deve ser organizado de modo a evitar o deslocamento “de cima pra baixo” nos piquetes. Deve-se priorizar as linhas perpendiculares à declividade do terreno, de modo a “frear” a água das chuvas, evitando o tráfego de máquinas e animais “morro abaixo”, utilizando-se as curvas de nível. Além disso, a sombra produzida não deve ser concentrada em pequenas áreas, mas em todo o comprimento do piquete, evitando a concentração de animais em determinadas áreas. Essa concentração eleva muito o pisoteio, matando a pastagem, além de compactar o solo nesses “paradouros”.
A implantação de árvores na pastagem pode ser realizada através do isolamento nas linhas de plantio das mudas, o qual pode ser realizado com cercas elétricas e estrategicamente paralelas a cercas existentes. Esta linha de plantio das espécies com objetivo de propiciar o sombreamento deve ser feita preferencialmente considerando a topografia do terreno e o sistema de divisão de áreas se este já está implantado.
O espaçamento entre linhas pode ser o mesmo utilizado na largura entre dois piquetes, o que facilitará sua implantação, respeitando um mínimo de 25 a 30m de espaçamento entre as linhas. O plantio de sombra pode ser feito na divisa entre os piquetes, mantendo o alinhamento planejado da cerca elétrica, preferencialmente seguindo a curva de nível do terreno.
Nas linhas de plantio podem ser utilizados os seguintes espaçamentos entre plantas:
* Eucalipto e acácia negra: uma planta a cada 2 metros;
* Nogueira-pecã: uma planta a cada 20 metros.
A distância da linha de plantio à cerca eletrificada e à cerca de proteção deve ser de no mínimo 1 metro, a fim de evitar que as vacas possam arrancar ou quebrar as mudas (Figura 41).
Deve-se levar em consideração que a desrama de espécies como o eucalipto deve ser realizada para permitir uma melhor insolação dos pastos na forma recomendada para os reflorestamentos.