Nova preocupação de canavicultores é a síndrome do murchamento da cana. IAC (Instituto Agronômico de Campinas) busca alternativas enquanto atua no melhoramento genético da cana.
Os canavicultores brasileiros precisam estar atentos a mais um problema que vem sendo observado nos canaviais: a síndrome do murchamento da cana-de-açúcar, caracteristicamente evidenciada pela presença de colmos murchos. Em alguns canaviais, a doença tem causado redução significativa de produtividade de colmos e de ATR (açúcar teórico recuperável). Dependendo da variedade plantada e do local, as perdas podem ser superiores a 25%. Além desses prejuízos, a doença afeta também a qualidade da matéria-prima. Pesquisadores do Programa Cana IAC desenvolvem estudos para solucionar esse problema, em parceria com o Centro de Pesquisa em Engenharia-Fitossanidade em cana-de-açúcar (CEPENFITO), na Unesp, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e do Grupo São Martinho.
A doença vem ocorrendo de forma gradativamente elevada, atingindo todas as variedades, em diversas regiões produtoras do Brasil. Os colmos murchos ou secos podem indicar diversas doenças. Segundo o pesquisador do IAC, Ivan Antônio dos Anjos, esses sintomas podem resultar do ataque de cigarrinhas das raízes (Mahanarva spp.) ou de fungos. “Dentre estes, destacam-se a espécie Colletotrichum falcatum), causador da Podridão Vermelha, Phaeocytostroma sacchari (Pleocyta sacchari), responsável pela Podridão da Casca ou Podridão Azeda, e Fusarium spp. (Murcha de Fusarium)”, explica o pesquisador do IAC, que atua em parceria com Antonio de Goes, professor da Unesp. Ambos são ligados ao CEPENFITO.
Esses sintomas resultam de infecções oriundas desses fungos mencionados, ocorrendo de forma isolada ou, menos frequentemente, em coinfecções. “Há situações em que se predominam sintomas de murcha oriundos de infecções causadas por C. falcatum, ora por P. sacchari e, menos frequentemente, Fusarium spp.”, diz Anjos.
O fungo P. sacchari, em particular, tem sido recorrentemente isolado de colmos murchos, diferentemente de sua ocorrência esporádica em anos anteriores. “Os sintomas típicos da sua infecção são a descoloração da casca e perdas de ceras; internamente os colmos exibem coloração marrom glacê e, com o avanço dos sintomas, entrenós avermelhados, e cheiro característico de fermentação”, comenta o cientista. Em razão da perda de água, formam-se cavidades ao longo do colmo e, consequentemente, a murcha. Com o avanço da doença, formam-se na casca estruturas escuras globosas, chamados cirros.
No caso da murcha de Colletotrichum, o sintoma mais evidente é a presença de bandas brancas contrastantes à coloração avermelhada da parte interna do colmo. Externamente, os fungos formam estruturas que se caracterizam pela presença de setas escuras, semelhantes a espinhos.
Segundo os pesquisadores, a evolução dos sintomas e consequentemente das perdas, aumentam consideravelmente com o avanço da maturação dos colmos, especialmente nos terços finais da safra no Centro-Sul.“A antecipação da colheita, nas áreas com os problemas da doença, é a medida mais recomendável à mitigação de perdas”, diz.
Diante dos desafios impostos pela doença, vários estudos vêm sendo conduzidos em laboratórios do IAC e da Unesp, em Jaboticaba. O desenvolvimento de variedades resistentes é um dos objetivos.
Colheita antecipada
Enquanto a pesquisa científica trabalha na solução do problema, a indicação para os canavicultores é a realização do corte antecipado da cana, única medida eficaz contra a doença até o momento.
“Muitos produtores têm aplicado fungicidas químicos e biológicos e feitos testes com variados tipos de adubações, com macro e micronutrientes, porém sem efeito. Até o momento não foram detectadas variedades resistentes”, afirma Anjos.