Wallisson Lara Fonseca é Zootecnista pela UFV, pós-graduado em Bovinocultura de Leite pela UFLA, MBA em Gerenciamento de Projetos pela FGV, Analista de Agronegócios do sistema FAEMG (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais) e Coordenador do Programa Balde Cheio pela FAEMG.
O Leite em Minas Gerais e Brasil / 2018
* Produção total estimada: 34 bilhões de litros, estabilidade na produção em relação a 2017
* Produtividade média BR: 1.710 litros/vaca/ano
* Produtividade média MG: 2.618 litros/vaca/ano
Conjuntura: A retomada da captação formal de leite em 2017 e início de 2018, e uma demanda interna patinando, devido à crise econômica, foram fatores que não chegaram a impedir a reação dos preços este ano, mas frustraram as expectativas.
De janeiro a maio de 2018, entressafra, considerando a média brasileira, o preço ao produtor subiu 8,6%. No entanto, a greve dos caminhoneiros, ocorrida no final de maio e início de junho, que prejudicou a captação de leite e provocou uma concorrência entre os laticínios, fez o preço subir. A alta, de maio a agosto (pico de preço em 2018) foi de 11,7%. Apesar da alta do leite cru, o aumento nos custos de produção no período de janeiro a agosto foi maior, prejudicando as margens da atividade.
Já os Custos de Produção, da atividade subiram, em média, 8,9% no período. No pagamento de setembro, porém, o mercado virou. O aumento da captação (período de safra), somado a pressão de baixa no mercado atacadista pressionaram os preços. No mais, a importação cresceu no segundo semestre. Desde o início do incremento na captação, em julho, o índice acumula alta de 12,1%. As chuvas, em bons volumes e mais regulares nesta temporada, principalmente na região Sudeste e Centro Oeste, contribuíram para o aumento da oferta no mercado interno.
A repercussão de menores investimentos na atividade leiteira por parte do produtor, é reflexo das sucessivas quedas no preço pago pelo litro de leite, principalmente no segundo semestre de 2018, o que deverá refletir em desestímulos para incrementos menores na produção nacional no curto prazo.
Mercado: O ano de 2018 foi marcado pela continuidade na estagnação do consumo no mercado interno, interrompendo uma trajetória de crescimento que vinha desde 2000, acumulando 40% de expansão. Em janeiro de 2019, o movimento de queda no preço médio pago ao produtor teve revés em MG, R$ 1,2535/litro de leite, aumento de 0,9% referente ao mês de dezembro.
Balança comercial: A balança comercial brasileira de lácteos registrou déficit de US$485 milhões em 2018, segundo o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC). Esse número é 6,7% inferior a 2017 e 14,7% menor frente a 2016, apesar na queda das importações, essas impactaram negativamente as cotações do preço do leite pago ao produtor no mercado doméstico. A queda se deu em decorrência da importação menor em 2018.No acumulado do ano de 2018, o volume importado foi de 152.620 toneladas, 9,9% inferior a 2017, sendo 59,3% vindos da Argentina e 29,1% Uruguai.
Programa Balde Cheio: A necessidade de assistência técnica continuada e seu sucesso ara a atividade leiteira pode ser exemplificada pelo Programa Balde Cheio em Minas Gerais.
Em um ano de altos custos de produção e desvalorização do produto final, foi grande a procura dos produtores mineiros pelo Balde Cheio. O programa, gerido em Minas pela FAEMG, capacita técnicos para orientarem os produtores à melhor gestão da propriedade, auxiliando na tomada de decisões, atacando os gargalos e otimizando oportunidades. Como consequência, é sensível a redução dos custos e aumento da produtividade por área (a média de produtividade dos participantes é de 4.484 litros/ha/ano, índice 2,6 e 1,7 vezes maior que a média nacional e estadual respectivamente), e ainda os indicadores econômicos mostram a eficiência e confiabilidade da assistência técnica, já que a agregação dos dados por tempo de participação dos produtores no Programa (1-3 anos e mais de 3 anos) permitiu observar a evolução positiva crescente dos indicadores e atribuir diferenças estatísticas (nível de significância de 5%) para as médias obtidas por estes agrupamentos para alguns indicadores importantes. O grupo de produtores com mais de três anos no Programa Balde Cheio apresentou diferenças estatísticas com relação ao grupo de produtores de um a três anos.
Perspectivas para 2019
Em um mercado competitivo como o setor lácteo, as exportações futuramente terão grande importância no equilíbrio do mercado, ajustando a produção à demanda interna e externa. Nesse enfoque, o setor de lácteos obrigatoriamente necessita constituir um fundo de defesa sanitária animal para atender as exigências dos mercados consumidores que importam os derivados lácteos, além da equidade na questão sanitária, que nos avaliza em fazer e ou ampliar os acordos bilaterais. O fundo tem também como objetivo dar suporte em caso de surtos e promover ações de prevenção e erradicação de doenças animais sob controle oficial, e ainda fará com que os Estados galguem mais um degrau, na mudança de patamar do Brasil em ter o status de área livre da aftosa sem vacinação, previsto para 2021. Com isso, o Brasil poderá se tornar um protagonista como player no mercado de lácteos no Mundo.
Fundo Sanitário: Um exemplo em Minas Gerais, foi a criação o FUNDESA-MG em 2018, Fundo de Defesa Sanitária Animal de Minas Gerais, que auxiliará o Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal - PNCEBT. O fundo possibilitará indenização, inclusive, para possíveis casos de febre aftosa, representando mais um passo para a futura retirada da vacinação contra essa doença. Permitirá também a abertura de outros mercados, ainda mais exigentes, fomentando as exportações.
CONSELEITE: A importância de aglutinar os interesses dos elos da cadeia produtiva dos lácteos, o CONSELEITE é uma oportunidade para buscar soluções conjuntas, pelos produtores rurais e indústrias, para problemas comuns do setor lácteo, alguns Estados já o constituiu, pois se trata de uma associação civil, regida por estatuto e regulamentos próprios, que reúne representantes de produtores rurais de leite do Estado e de indústrias de laticínios que processam a matéria-prima (leite). O Conselho é paritário, ou seja, o número de representantes dos produtores rurais é igual ao número de representantes das indústrias.
Benefícios ao produtor em relação ao CONSELEITE
* Acompanhamento do que ocorre com o mercado lácteo em tempo real;
* Análise de oportunidades de melhoria de preços, por meio de aumento do volume e qualidade de leite;
* Plataforma para troca de informações, que recebe dados agregados que serão importantes para a gestão;
* Acesso a estatísticas sobre o mercado lácteo;
* Acesso a materiais exclusivos;
* Confidencialidade e transparência do valor de referência.
Em 2018, foi a vez de Minas Gerais constituir o CONSELEITE, foi um primeiro passo para a organização da cadeia produtiva, viabilizando o diálogo consistente com a indústria e estabelecendo um preço base para a comercialização do leite no estado e prosperando dias melhores para a cadeia de valor.
Projeto Campo Futuro: O Campo Futuro é um projeto realizado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR) em parceria com universidades e centros de pesquisa, além das Federações de Agricultura e Pecuária dos Estados. Com objetivo de levantar informações por meio de painéis realizados nas principais regiões produtoras, em municípios com significativa participação na produção nacional de cada produto. O painel consiste em uma reunião técnica in loco, com a participação dos agentes da cadeia produtiva (produtores, técnicos da agroindústria e representantes de lojas de insumos), para definição de uma propriedade modal.
Nos painéis realizados em 2018 nos estados do MS, PR, MG e RS, foram observados que além de ter relação direta com a produção de leite, os custos com ensilagem são um importante componente dos desembolsos do produtor rural. Nas propriedades típicas do projeto Campo Futuro, a produção desse alimento corresponde, em média, a 15% do Custo Operacional Efetivo (COE). Considerando-se toda a operação de produção de silagem, a adubação é o item que mais impacta na composição desse custo, representando, em média, cerca de 50% dos custos nas propriedades pesquisadas.
Diante do cenário desfavorável, o resumo dos painéis mostrou que é fundamental ser eficiente na produção da silagem, potencializando os efeitos da adubação para uma maior produção por hectare. Destaca- -se que a supervisão profissional é imprescindível, pois há fatores como a escolha de semente, correção e adubação do solo, e época de plantio e colheita, por exemplo, que impactam diretamente na qualidade e no volume de forrageira produzida.
Oportunidades: Para o primeiro semestre de 2019, o quadro ajustado entre a oferta e a demanda será um fator positivo para valorizações no mercado. A expectativa é de continuidade do crescimento da demanda interna, porém, o consumo ainda deverá ficar em níveis abaixo do anterior à crise.
E ainda, a conjuntura não deverá ser diferente, e a projeção é que a balança comercial de lácteos continue negativa. Para o primeiro semestre, os preços futuros do leite em pó no mercado internacional estão entre US$2.682,00 a US$2.756,00/tonelada, segundo a plataforma Global Dairy Trade. Se os preços futuros se consolidarem, estes ficarão, em média, 14,8% menores que igual período de 2018, o que poderá favorecer a importação.
Com relação ao câmbio, o dólar em patamar menor também é um fator de incentivo às importações. No último Boletim Focus do Banco Central, de 4 de janeiro, a estimativa é de que o valor médio do dólar seja de R$3,80 para 2019 e para 2020. Em contrapartida, a produção nacional deverá crescer moderadamente em 2019. O ano começa com expectativas positivas do lado da demanda e custos com à alimentação concentrada menores em relação a 2018.
Em geral, é notório que as regiões Ásia-Pacífico e o sudeste da Ásia, apenas em termos de crescimento das demandas, ainda são muito robustas, de modo que é onde podem ser vislumbrados pontos favoráveis para as exportações dos lácteos. Com isso, há o objetivo de prospectar oportunidades de negócios e promover maior inserção do setor lácteo brasileiro no mercado internacional.
Para o produtor, o cenário em termos de preços recebidos deverá ser melhor no primeiro semestre de 2019, comparativamente com o mesmo período de 2017 e 2018. A aposta está na recuperação da demanda interna em conjunto com um cenário de oferta mais ajustada. Por fim, a expectativa é de custos de produção menores este ano, com o aumento da oferta de milho e soja (2018/2019).
Em suma, a prioridade política do atual governo pelo agronegócio poderá dar uma esperança ao produtor rural, encorajando-o nas tomadas de decisão para um futuro alvissareiro e concomitantemente com lucro em sua atividade, promovendo a sustentabilidade em seus negócios.