Vinícius Teixeira Lemos é Engenheiro Agrônomo pela Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Mestre em Produção Vegetal pela Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri/Universidade Federal de Viçosa, Doutor em Fitotecnia pela Universidade Federal de Lavras, Consultor e palestrante na área de fertilidade do solo e nutrição de plantas e Professor titular e coordenador do curso de Pós-graduação em Agricultura de Precisão e Fertilidade do Solo no Una Bom Despacho.

Parece algo muito simples, mas a preocupação de muitos produtores de leite é saber o ponto ideal de consumo ou de corte das pastagens, ou seja, determinar em que altura do capim os animais devem entrar ou sair dos piquetes. Isso ocorre tanto quando trabalham com gramíneas em cobertura de inverno ou com pastagens perenes e em sistema de piqueteamento.

Normalmente, o rebanho está superior à quantidade ideal ou acaba ficando tempo demais no pastejo e consome o alimento até abaixo do ponto limitante para a rebrota. Outras vezes o número de animais na área é baixo, deixando o pasto muito acima da altura ideal. As duas situações são comuns de se ver no campo, pasto muito alto ou demasiadamente pastejado.

Em ambas as situações existem perdas. O pesquisador da Embrapa, Dr. Jose´ Alexandre da Costa explica que acima do ponto ideal o pasto começa a ficar fibroso e velho, desagradando o paladar do animal e, ao mesmo tempo, perdendo em conteúdo nutricional. Ao passo que se ficar abaixo, é ainda mais grave, pois compromete a pastagem, que começa a se degradar pela falta de força para a rebrota, ou seja, os animais estão consumindo muito pasto e a produtividade também vai diminuir.

Como há inúmeros estudos que associam a altura da pastagem com o desempenho animal, é possível simplificar ainda mais o manejo, apenas controlando a altura de entrada e saída dos animais, em pastejo rotacionado ou a altura do pasto no pastejo contínuo. Desta forma, a altura da pastagem constitui-se em uma medida indireta adequada da forragem disponível, facilitando o manejo, desde que haja densidade de plantas na pastagem e massa de folhas, especialmente em pastagens tropicais em monocultivo (formadas por uma só espécie forrageira).

Para orientar os pecuaristas, o engenheiro agrônomo Dr. José Alexandre da Costa e um colega, o Zootecnista Haroldo Pires de Queiroz, desenvolveram uma régua de manejo de pastagens muito prática para ser utilizada, cuja a qual falaremos dela a seguir.

Régua de Manejo de Pastagem da Embrapa

A régua de manejo é um instrumento simples baseado na altura (cm) como orientação de manejo. Foi desenvolvida para uso com as forrageiras tropicais lançadas pela Embrapa Gado de Corte, exceto a Brachiaria decumbens, pois esta última já era uma forrageira presente em larga escala nos sistemas pecuários de produção brasileiros. Em uma das faces da régua constam as alturas de entrada e saída (resíduo) das braquiárias e na outra face dos panicuns (coloniões). Na face usada para braquiárias estão marcadas as faixas de uso da Brachiaria brizantha cultivares Marandu, Xaraés e Piatã, Brachiaria decumbens cv. Basiliski (braquiarinha) e Brachiaria humidicola cv. Tupi e a Humidicola comum. Na face utilizada para manejo de panicuns estão marcadas o Panicum maximum cvs. Mombaça e Tanzânia e P. maximum x P. infestus cv. Massai (Costa e Queiroz, 2013).

As faixas de uso foram estabelecidas a partir de resultados experimentais obtidos por pesquisas conduzidas na ESALQ-USP, UFV, Embrapa Gado de Corte, e outros centros de pesquisa que trabalham com produção animal a pasto. Elas consideraram alturas de entrada e saída (resíduo) mais conservadoras, que favorecem a longevidade produtiva da pastagem (Costa e Queiroz, 2013).

A faixa verde indica a condição adequada de uso, aquela em que se dá o melhor desempenho animal e a manutenção da produtividade da pastagem, momento ideal de entrada dos animais no pasto observada na Figura 1. Acima da faixa verde indica as situações em que o manejo está inadequado, ou seja, está ocorrendo o sub pastejo, o pasto passou do ponto perdendo o valor nutricional está ficando mais lignificado do que o ideal. Abaixo da faixa vermelha, o manejo compromete a persistência da pastagem, situação que, se for repetida frequentemente leva à degradação da pastagem, desta forma considera que está ocorrendo um super pastejo (figura 1). Em suma, o correto para cada forrageira é entrar com os animais na faixa verde e sair com eles quando a pastagem atingir a faixa vermelha.

Figura 1. Régua de manejo de pastagens em forma de haste rígida com seção transversal retangular. (Legenda: MO = Mombaça; TA = Tanzânia; MS = Massai; XR = Xaraés; PI = Piatã; MR = Marandu; DC = Decumbens; HM = Humidícola) (Fonte: Costa e Queiroz, 2013).

Nos piquetes sob pastejo contínuo a régua de manejo indica o momento de aumentar ou reduzir a lotação do pasto. Quando o capim atinge a altura MÁXIMA (Figura 2) é hora de aumentar o número de animais no piquete. Quando chega na altura MÍNIMA deve-se reduzir o número de animais no pasto, ou deixá-lo em descanso. A taxa de lotação¹ mais adequada será aquela que mantiver a pastagem numa altura intermediária entre a máxima e a mínima.

Figura 2. Capim-piatã (PI) próximo da altura máxima de manejo da pastagem (35 cm) demonstrado pela régua de manejo. (Crédito da foto: Costa e Queiroz, 2013).

Nos piquetes sob pastejo rotacionado a régua de manejo indica o momento da entrada dos animais na pastagens (Figura 3) e o momento de troca de piquete.

Figura 3. Capim-mombaça (MO) na altura de entrada dos animais na pastagem (90 cm) demonstrado pela régua de manejo. (Crédito da foto: Costa e Queiroz, 2013).

A taxa de lotação mais adequada será aquela que permitir o consumo de toda a forragem entre a ALTURA DE ENTRADA e a ALTURA DE SAÍDA num período de 1 a 7 dias.

Uso da Régua de Manejo de Pastagem

Para se realizar a avaliação da pastagem basta segurar o instrumento na posição vertical com a extremidade inferior apoiada no solo e verificar se as plantas da pastagem encontram-se com altura no intervalo recomendado para pastejo. Esta verificação da altura deve ser repetida em diversos pontos, abrangendo toda a pastagem, pois o capim apresenta-se com a altura distribuída irregularmente pelo piquete (Costa e Queiroz, 2013).

Além de a régua ser ergonômica, ou seja, o usuário não precisa ficar se curvando para medir a altura da pastagem, ela tem outra vantagem que é proporcionar o monitoramento da forrageira, por meio da indicação direta da recomendação de manejo relativa à pastagem (não há necessidade de leitura da altura em centímetros, por exemplo, anotação, e a posterior interpretação técnica e consequente recomendação de manejo). Além disso, a presente tecnologia não está sujeita a falhas mecânicas ou eletrônicas como no caso dos discos de medição e da sonda eletrônica (Costa e Queiroz, 2013).

A aplicação da régua de manejo de pastagem desenvolvida pela EMBRAPA permite a determinação do momento correto de saída dos animais da área de pastejo, de modo a evitar que rebanhos permaneçam em áreas super pastejadas, com o capim muito abaixo da altura indicada para a espécie ou cultivar forrageira. Além disto, é possível evitar que a planta forrageira atinja altura superior ao ponto adequado de entrada dos animais, a baixo custo e uso prático no manejo da pastagem na fazenda (Costa e Queiroz, 2013).

A régua é indicada para qualquer condição climática brasileira, sendo as limitações locais ao crescimento vegetal, o condicionante de um uso mais ou menos intenso da mesma.

Para as situações práticas de campo, por ser a altura uma medida de fácil obtenção, Costa e Queiroz (2013) sugerem 30 avaliações de altura em áreas de até 5 hectares, 40 em áreas até 10 hectares e de 50 ou mais em áreas acima de 10 hectares. Essa recomendação baseia-se na desuniformidade na distribuição da altura do capim ao longo da pastagem, promovida pelo pastejo seletivo.

Existe uma limitação da régua quando a pastagem está mais ou menos densa, mas, essa limitação é minimizada pelo fato de que os animais permanecem na pastagem somente até quando alcançada a altura inferior (limite inferior da faixa de uso – cor vermelha), devendo então ser trocados de piquete. Como não há interferência do tempo de uso (dias de pastejo), a necessidade de aceleração ou atraso na troca de piquetes (pastejo rotacionado) ou pastagem (pastejo contínuo), fica condicionada ao atingimento da altura inferior da pastagem.

Portanto, situações favoráveis ao crescimento da forrageira levam a um maior tempo de uso de um piquete (ou, caso queira podendo também ser aumentada a lotação de animais e manter o mesmo tempo de pastejo). Já em situações desfavoráveis a tendência é diminuir o número de dias de pastejo (ou, caso queira, diminuir a lotação para se mantiver o mesmo período de tempo programado), sempre essas situações sendo monitorados pela altura do pasto com a régua.

Na época de escassez de forragem a régua não é um bom instrumento de manejo para assegurar a nutrição adequada dos animais em pastejo, mas a limitação ao uso deve-se às condições climáticas, fato que se repetirá com qualquer outro método de medição da massa de forragem. Nessas situações de seca, que se repetem anualmente, os pesquisadores da Embrapa Gado de Corte, Costa e Queiroz (2013) que inventaram a régua de manejo de pastagem frisam que devem ser providenciadas outras formas de alimentar o rebanho, com uso de forragem conservada (feno e silagem) ou suplementação (sais proteinados, suplementos energéticos, rações, grãos, etc).

Do Campus para o Campo

Eu, professor Vinícius Lemos, venho desde 2015 incentivando meus alunos de Medicina Veterinária e de Agronomia na Una Bom Despacho a confeccionarem réguas de manejo de pastagem nos moldes da EMBRAPA (criada por Costa e Queiroz, 2013) de forma artesanal e doando aos pecuaristas da região do Centro Oeste Mineiro. Pois, além de promover a extensão rural desses estudantes de graduação, os mesmos já estão fazendo contatos profissionais com esses pecuaristas, e, isso pode incentivar a eles trilhar caminhos de consultoria técnica na área de forragicultura.

Faça a sua própria régua de manejo de pastagem

A régua pode ser facilmente confeccionada usando:

*1 ripa de madeira de dimensões 0,8 cm (espessura) x 3cm (largura) x 150 cm (comprimento);

*1 fita durex de cor vermelha;

*1 fita durex de cor verde;

*1 pincel preto;

Modo de construir

Siga as dimensões demonstradas na figura 1 dessa matéria, ou, também pode observar nessas duas tabelas abaixo:

Tabela 1 – Altura máxima e mínima de pastejo das braquiárias desenvolvidos pela EMBRAPA Gado de Corte (Brachiaria brizantha cultivares Marandu, Xaraés e Piatã, Brachiaria decumbens cv. Basiliski (braquiarinha) e Brachiaria humidicola cv. Tupi e a Humidicola comum).

Fonte: Costa e Queiroz, 2013

Tabela 2 – Altura máxima e mínima de pastejo dos Panicuns desenvolvidos pela EMBRAPA Gado de Corte. (Panicum maximum cvs. Mombaça e Tanzânia e P. maximum x P. infestus cv. Massai).

Fonte: Costa e Queiroz, 2013

Glossário: ¹ Taxa de lotação: número de animais em pastejo.