Ernesto Coser Neto é graduado em Medicina Veterinária pela UNOESTE, possui pós-graduação em Desenvolvimento Gerencial e Marketing pela Fundação Toledo de Ensino. Com mais de 20 anos de experiência, atuou em grandes laboratórios veterinários e atualmente está empresa Trutest, especializando-se em cercas elétricas, com cursos na Nova Zelândia.

A Nova Zelândia se tornou dona do leite no mundo, porque desenvolveu um modelo de pecuária leiteira baseada em produção a pasto. Tem alta produção e produtividade com custo muito baixo. No Brasil, apesar de toda a vocação que temos para produzir leite a pasto, meu sentimento é que nossa tendência tem sido copiar modelos americanos e europeus.

É obvio que a maioria das fazendas no Brasil hoje, produz seu leite basicamente a pasto. Mas pergunte a produtores, qual é o modelo de produção que eles gostariam de ter se tivessem condição para isto. Acredito que 9 entre 10 produtores gostariam de ter vacas de 40 litros ou mais dentro de um grande barracão climatizado, com um sistema robotizado de alimentação. E se fizermos esta mesma pergunta para técnicos/consultores, 9 entre 10 vão dizer que este é o modelo que eles gostariam de instituir nas fazendas que assistem.

Mas e o pasto? E o clima propicio que temos? E a quantidade de terras que temos?

Vamos sonhar em ter vaconas de 50 litros criadas no ar condicionado e alimentadas com ração ou vamos sonhar com vacas médias criadas com pastejo intensivo?

Não sou contra dar ração. Sou contra desperdício de pasto. Mesmo nas fazendas mais tecnificadas nossa eficiência de pastejo é bem baixa. Acredito que a ração deve ser usada de forma estratégica e não de forma compensatória, para compensar a baixa eficiência de pastejo que temos hoje.

Sabemos tudo sobre o pastejo, sabemos corrigir o solo, a planta, os animais, só não estamos tendo sucesso em seu manejo. Sabemos a hora de entrar e sair com os animais dos pastos. Mas fazer o animal ficar onde queremos e não deixar com que ele escolha onde comer, ainda é um desafio no Brasil.

Se temos pasto rapado ou pasto passando, quem está comandando a fazenda é o gado e não seus gestores. Na minha opinião, o que nos falta são informações sobre conceitos básicos de cerca elétrica. O resto já dominamos no Brasil.

Quantos volts mínimos devemos ter no arame para que os animais respeitem a cerca? Qual a potência do eletrificador? Devo comprar por km ou por potência? Como deve ser uma cerca em solos arenosos? Como aterrar? Como proteger de raios?

Nem mesmo estes simples conceitos são dominados por técnicos/consultores no Brasil e na Nova Zelândia esta tecnologia é matéria na graduação de cursos de ciências agrárias.

A cerca elétrica não é mais importante que nenhuma outra tecnologia aplicada na produção pecuária, mas é essencial. É mais um dente da engrenagem, mas hoje é um dente faltante e a engrenagem não está rodando bem.

EUA não pode ter pastejo, NZ não pode ter confinamento, o Brasil pode ter os dois, mas devemos usar ração de forma estratégica e não de forma compensatória e assim teremos melhores margens e riscos menores para os produtores e assim possibilitar a permanência na atividade pecuária de muito mais produtores e reverter esta tendência de saírem da atividade.

Imaginem se o Brasil aprende a manejar bem os pastos da mesma forma como é feito na Nova Zelândia, mas usando também de forma estratégica a ração.

Pastejo intensivo suplementado é o modelo de produção mais democrático e acessível, os modelos confinados também são bons, mas são para poucos e a margem é menor e o risco é alto. Em épocas onde o preço do leite é baixo ou temos leite importado mais barato a rentabilidade ficará negativa.

Não podemos mudar as políticas e a livre concorrência, só podemos mudar nossos custos de produção.

O melhor modelo de produção é o que deixa mais lucro.