Frederico Garcia Lima é médico veterinário, trabalha desde 2006 com consultoria gerencial em fazendas de leite, atuando em várias propriedades, inclusive com fazenda ranqueada no top 100 do Milkpoint. Tem pós-graduação em Nutrição de Plantas e Fertilidade de Solos. Trabalhou junto com empresas de consultoria, como a Equipe Prodap (hoje Exagro) e no Educampo. Possui ainda diversos cursos na área de gestão e Educação Financeira, atuando hoje pela sua empresa, a GL Consultoria.

Fazer gestão é atuar em todas as atividades que influenciam a rentabilidade do seu negócio. Corrigir, e principalmente prevenir problemas é uma boa forma de definir o que significa gerenciar.

Portanto, conhecer os problemas que podem afetar a sua rentabilidade e trabalhar para evitar que estes problemas ocorram, é uma forma de gestão que cria um melhor resultado.

Hoje vou falar de um problema muito comum, que é a ocorrência de Leite Instável Não Ácido (LINA), ou seja, o leite que dá resultado positivo no teste do alizarol.

Leite Instável Não Ácido (LINA) é um evento comum nas fazendas e que leva a prejuízos porque o leite fica não apto a captação pela indústria, ou seja, reconsiderado leite perdido, impróprio ao beneficiamento, e neste caso, ou você vai jogar leite fora ou vai vendê-lo por um preço muito abaixo do que você está recebendo atualmente pelo laticínio para quem você vende o leite

O teste do alizarol, utilizado a mais de 100 anos, ainda é o primeiro teste realizado pela indústria momentos antes da coleta do leite nas fazendas, e empregado como critério de decisão para a captação ou não do leite. Resultados positivos ao teste do álcool (precipitação) podem ocorrer devido à redução de pH pela fermentação da lactose até a produção de ácido láctico, resultando na instabilidade da proteína.

Originalmente, o teste do alizarol objetivou identificar amostras de leite instáveis, ou seja, com acidez elevada, geralmente oriunda do crescimento bacteriano no leite e que provavelmente coagulam durante o processamento térmico na indústria. 

Porém, constatou-se que amostras do leite podem coagular durante o teste do álcool e não apresentar acidez, gerando um falso positivo. Esta constatação, com base em pesquisas realizadas nos últimos anos, é que foi denominada como Leite Instável Não Ácido (LINA).

O teste do álcool é utilizado pelas indústrias lácteas para avaliar a qualidade do leite nas unidades de produção leiteira, e as amostras de leite positivas são descartadas por não serem consideradas aptas aos processos de beneficiamento. 

Apesar do LINA não apresentar nenhum risco a saúde humana, o mesmo geralmente não é captado pela indústria porque pode coagular durante o processamento, especialmente por Ultra Alta Temperatura (UHT). A coagulação durante a industrialização pode causar inúmeros transtornos e prejuízos, tais como descarte de leite, parada da planta e necessidade de sanitização do sistema.

O LINA trata-se de um problema multifatorial, cujos fatores intervenientes são relacionados à execução do teste (concentração do álcool), ao manejo (alimentação, clima, relação homem-animal), ao animal (suscetibilidade ao estresse, potencial produtivo, estádio da lactação, sanidade, problemas digestivos e metabólicos, frações da caseína), entre outros. 

Estudos demonstraram que o teste do álcool apresenta pouca confiabilidade para estimar a estabilidade térmica do leite e que a coagulação do leite durante o teste do alizarol pode resultar em “falso positivo”. Assim, o LINA poderia ser aproveitado e processado na indústria, sem apresentar maior risco de coagulação em relação ao leite estável ao teste do alizarol. Este teste ainda é usado atualmente, porque, por enquanto, não existe outro para ser feito no campo, com tanta rapidez e baixo custo como o alizarol.

De forma geral, os fatores nutricionais são as principais causas de LINA, especialmente restrição alimentar e deficiência energética, excesso de proteína degradável no rúmen, deficiência de proteína metabolizável. Também excesso de proteína associado a deficiência energética da dieta, ocorrência de acidose ruminal e metabólica, dietas ricas em cálcio, deficiências ou desequilíbrio mineral, e mudanças bruscas na dieta. Pode estar associada a genética (animais da raça Jersey podem apresentar mais facilmente falso positivo pela composição das proteínas do leite), concentração de vacas em estágio inicial ou final de lactação, 

O leite oriundo de vacas em estágio inicial ou final de lactação geralmente apresenta menor estabilidade ao teste do alizarol do que quando oriundo de vacas em estágio intermediário de lactação, provavelmente por alterações na permeabilidade das células mamárias ou então em resposta ao balanço energético negativo no pós-parto.

A síndrome aumenta em gado de alto potencial genético e em épocas de estresse nutricional e/ou calórico. 

As épocas com maiores ocorrências de LINA são as que ocorrem deficiência de forragens, como os períodos de transição entre pastagens de verão para as de inverno, e vice-versa; bem como veranicos durante o período chuvoso, em que ocorre menor oferta de forragem aos animais.

Se durante o período seco também houver deficiência de forragem para os animais, ou for feito uso de forragens de baixa qualidade, como o uso de capineira “passada”, ou ainda o uso de cana-de-açúcar sem as devidas correções com uma fonte de proteína e mineralização adequada, o LINA ocorre com certa frequência.

A ocorrência de LINA é mais comum em fazendas que utilizam sistemas de pastejo em relação aos sistemas de confinamento, embora problemas de LINA são identificados em qualquer sistema de produção, visto que o balanceamento de nutrientes pode ser o principal responsável pela sua ocorrência. Entretanto, o controle e o balanceamento de dietas são mais desafiadores em sistemas de pastejo.

A prevenção e correção da ocorrência de LINA é multifatorial e complexa, mas sua ocorrência pode ser reduzida com bom manejo nutricional, como a diminuição no consumo de carboidratos facilmente fermentáveis, e/ou o aumento de forragem verde, o aumento de proteína verdadeira, de preferência by-pass, e o uso de substâncias reguladoras do ambiente ruminal, que produzem uma recuperação entre 7-21 dias após as mudanças na alimentação. 

Lembre-se também de oferecer água de boa qualidade e sombra, permitindo um maior conforto aos animais. 

Fique atento!

Abraço e sucesso!