Ernesto Coser Neto é graduado em Medicina Veterinária pela UNOESTE, possui pós-graduação em Desenvolvimento Gerencial e Marketing pela Fundação Toledo de Ensino. Com mais de 20 anos de experiência, atuou em grandes laboratórios veterinários e atualmente está empresa Trutest, especializando-se em cercas elétricas, com cursos na Nova Zelândia.

Você plantou o capim, fez o projeto de dimensionamento dos piquetes ou uma outra subdivisão no seu pasto e é chegada a hora de fazer a cerca elétrica. Tranquilo, né? Basta comprar aquele arame que o vendedor disse ser o melhor, algumas estacas, isoladores e o aparelho eletrificador. Nada disso. É preciso saber um pouco mais sobre a tecnologia.

Há décadas o equipamento é imprescindível na pecuária de leite da Nova Zelândia. Por aqui, cresce sua utilização, mas a falta de conhecimento muitas vezes não permite obter a mesma eficiência. O Brasil possui enorme potencial para produção de leite a pasto, o clima e outras tantas condições favorecem esse tipo de sistema de produção. Dentre as muitas tecnologias utilizadas por produtores em sistemas de pastejo rotacionado, uma delas, tem chamado a atenção para a falta de conhecimento e capacitação de produtores e técnicos.

Ernesto Coser Neto, um dos maiores especialistas do assunto garante que podemos melhorar nossa eficiência de pastejo com o uso correto da cerca elétrica, para em seguida, adotar dietas estratégicas, com o viés de maior lucratividade. Segundo Ernesto, “toda tecnologia que não é estudada não é dominada, e se torna um problema se empregada de forma erada. Por outro lado, quando a tecnologia é utilizada corretamente, se torna uma solução”.

Diante da falta de informações, reunimos algumas das principais dúvidas sobre o assunto e nosso especialista, responde, para pôr fim em mitos e inverdades sobre a cerca elétrica que tanto circulam por aí.

Qual a voltagem mínima no arame para que os animais respeitem a cerca?

Essa é uma boa pergunta! Precisamos ter no mínimo 4 mil volts no arame para que os animais respeitem a cerca elétrica.

Como devo basear a compra de um eletrificador? Por alcance (km) ou potência real?

O eletrificador é um motor que empurra o choque pelo arame, assim como uma bomba d’água empurra a água pelo tubo. Não se compra motor nenhum por alcance, pois existem muitas variáveis, e não é possível assegurar um alcance sem se conhecer estas variáveis.

Qual a medida de potência?

Bomba d’água se compra por HP e eletrificador se compra por joule. E temos o joule armazenado e o joule liberado, que é o que realmente ele despeja no arame.

O estado da cerca interfere na necessidade de mais potência ou não?

Podemos ter cercas com o mesmo comprimento, mas com necessidade de potências em joule muito diferentes.

Qual o melhor condutor de choque? Fio grosso ou fio fino?

Faça sempre uma analogia com o sistema hidráulico, se quisermos enviar bastante água, usamos tubos grossos e, assim, se precisamos enviar bastante choque usamos fios grossos. A resistência em fios finos é muito maior, dificultando, assim, que o choque percorra a cerca.

Qual a potência média dos eletrificadores vendidos no Brasil e na Nova Zelândia?

No Brasil, cerca de 90% dos eletrificadores têm menos de 0,1 joule liberado, são os conhecidos 30 km. Na Nova Zelândia, reduto da cerca elétrica e onde não existem fazendas muito grandes, temos eletrificadores de até 63 joules liberados, e na média se utiliza os de 12 joules liberados.

Como deve ser uma cerca para regiões de solos arenosos e/ou secos?

O choque se dá quando o animal toca o arame positivo da cerca e sua pata está no solo, mas quando o solo é arenoso ou tem longos períodos de seca, ele acaba não descarregando este choque no solo e, portanto, não sente o choque. Deste modo, somos obrigados a fazer uma cerca elétrica intercalando fios positivos e negativos, e este fio negativo deve ser ligado ao aterramento, tendo vários aterramentos auxiliares ao longo da cerca. Assim, não precisamos do solo para que o animal sinta o choque, basta ele tocar no positivo e negativo da cerca.

O que deve ser feito para proteger o eletrificador de raios e oscilações da rede elétrica?

Não existe nada que suporte um raio sem quebrar, mas podemos desviá-lo para que não chegue até o eletrificador. Usamos um kit para-raios na cerca como forma de desviar para o aterramento o raio que pode vir pela cerca, e protegemos também a tomada em que é ligado este eletrificador, usando uma rede elétrica aterrada e adicionando um estabilizador de voltagem.

Como e onde deve ser feito o aterramento?

O aterramento deve ser feito em solos úmidos e quanto melhor aterrado, melhor. Recomendamos o mínimo de 3 hastes com pelo menos 2 metros de altura, com distância de 3 metros entre elas, formando uma figura geométrica e de preferência fazer aterramentos auxiliares ao longo da cerca. Para eletrificadores com mais de 3 joules recomendamos o mínimo de uma haste por joule.

Qual a distância entre as lascas (postes)?

A proposta da cerca elétrica é substituir estrutura por choque, sendo assim, os postes são um suporte de arame, e não reforço físico. Quem determina a distância dos postes é o relevo. Se for plano, temos até 50 metros de distância entre lascas.

As perguntas e respostas foram enviadas por Ernesto Coser Neto, as quais perfazem o acervo do autor, o qual identificou estas como as principais dúvidas de produtores e técnicos de todo o Brasil.