Luis Gustavo Mendes é Engenheiro Agrônomo formado na ESALQ/USP em 2015 e Licenciado em Ciências Agrárias pela mesma Instituição. Mestre em Engenharia de Sistemas Agrícolas, também pela ESALQ/USP, com concentração em Agricultura de Precisão e SIG em 2019. É professor do Curso de Pós-Graduação em Agricultura de Precisão e Fertilidade do Solo da UNA de Bom Despacho-MG. É fundador e sócio proprietário da BullGreen Pasture Technology, empresa de tecnologia aplicada à pecuária.
Agricultura de Precisão (AP), ao contrário do que muitos pensam, não é um tema tão novo assim. Existem relatos das primeiras aplicações em taxas variadas de calcário no início do século XX.
Na Europa e nos Estados Unidos da América, os primeiros mapas de produtividade foram gerados na década de 1980, e tal atividade possibilitou as primeiras aplicações de insumos em taxas variadas.
Nos anos 2000, o governo norte americano eliminou um ruído do sinal do GPS, que era responsável por causar erros de posicionamento da ordem de 100m.
A partir deste momento, os receptores de sinais foram ficando cada vez mais acessíveis e exatos quando o assunto era posicionamento global.
Hoje em dia, a prática da agricultura de precisão vem ganhando cada vez mais espaço no mercado mundial, sendo que novas empresas estão surgindo todos os anos, seja para prestação de serviços de consultoria voltados à AP, seja para lançamentos de novos produtos e/ou soluções tecnológicas.
Quando falamos em Agricultura de Precisão, muitos pensam em tratores com GPS, sistemas de direcionamento automático ou algum equipamento que custe muito caro e não esteja ao alcance de suas propriedades.
A Comissão Brasileira de Agricultura de Precisão define AP como sendo “...um conjunto de ferramentas e tecnologias aplicadas para permitir um sistema de gerenciamento agrícola baseado na variabilidade espacial e temporal da unidade produtiva, e visa ao aumento de retorno econômico e à redução do impacto ao ambiente”.
Em outras palavras, assume que as lavouras não são homogêneas no espaço e nem no tempo, sendo necessário um manejo diferenciado de cada porção das lavouras, de uma forma que possa ser explorado o máximo potencial produtivo de cada área e, consequentemente, reduzir os impactos ambientais atrelados ao sistema produtivo.
AP está relacionada à utilização massiva de informações que possam ser obtidas de cada propriedade.
Ninguém sabe mais que o produtor sobre o que acontece em suas terras que, na maioria dos casos, cultiva nos mesmos locais há dezenas de anos.
A racionalização dos insumos, ou melhora na sua eficiência produtiva, é uma máxima da AP.
Uma vez que se tem a aplicação de insumos, onde eles são realmente necessários, evita-se gastos desnecessários com adubos ou agroquímicos, que são responsáveis por uma fatia expressiva na composição dos custos de produção nas fazendas brasileiras, sem mencionar as questões ambientais.
A melhor utilização dos nutrientes evita lixiviações e contaminações de rios e lençóis freáticos, eutrofizações dos rios, entre outros.
Em diversas fazendas, é comum a tentativa por parte dos agricultores de elevar a produtividade de áreas que estão produzindo menos, porém em muitos casos, tais regiões com menores produtividades podem estar atreladas aos fatores que não sejam possíveis controlar, como textura de solo.
Muitas vezes as áreas produzem menos, não por falta de adubos, mas por falta de matéria orgânica, falta de estruturação do solo, solos rasos ou pouco profundos, e solos compactados com pé de grade.
Mesmo aumentando as doses da adubação, estas regiões não produzirão mais.
“Aquilo que não se pode medir, não se pode melhorar” (Lord Kelvin)
A AP trata de entender estas variações e realocar os insumos das regiões de baixos potenciais para regiões de alto potencial produtivo, dessa forma, mesmo as regiões de baixas produtividades com menor aporte de insumos podem acabar gerando lucros aos produtores.
Atualmente, o sistema de classificação da qualidade das forragens é realizado nas fazendas pecuárias com metodologias baseadas na experiência dos consultores técnicos, sendo que poucos conseguem aplicá-lo com certa precisão.
Além desse fator, o sistema é pouco escalável e sujeito a erros, uma vez que existe a dependência da interface humana para visita e coleta das informações.
Existem, atualmente, empresas que conseguem auxiliar os pecuaristas na melhor gestão de seus piquetes, informando para onde o gado deve ir.
Um exemplo que merece destaque nessa área é a empresa BullGreen Pasture Technology, localizada no AgTechValley em Piracicaba-SP. E-mail: bg.bullgreen@gmail.com
Por meio de uma plataforma integrada a um aplicativo de celular, que coleta dados no campo, e cruza com informações provenientes de sensores de satélites, a Empresa consegue transformar a operação de gado a pasto em uma atividade precisamente planejada e assertiva, entregando resultados que contribuem para a tomada de decisão por parte do pecuarista.
A plataforma, juntamente com o aplicativo permitem uma otimização e uma intensificação do uso do pasto, levando à maior taxa de conversão de biomassa em proteína animal, e com isso, os custos de produção da cadeia produtiva são maximizados.
A plataforma possui recursos de alerta para tomada de decisões, elaboração de relatórios sobre a eficiência do uso da biomassa disponível no pasto, os níveis de intensificação, bem como lotação dos piquetes e diretrizes para aumento da eficiência do pastejo rotacionado.
(Fonte: BullGreen Pasture Technology)
Aplicações de tecnologias como esta levarão a uma produção de proteína animal mais sustentável e rentável, com melhor uso da terra e maior qualidade no produto final, reduzindo custos na terminação dos animais, uma vez que encurtam o tempo de confinamento.
A pecuária nacional ocupa lugar de destaque frente à economia mundial de produção de carne bovina. Uma gestão eficiente de toda a cadeia produtiva tornará a pecuária brasileira referência no âmbito de quantidade e qualidade da carne produzida.
As exportações de carne bovina cresceram 11% no ano de 2018, e para o ano de 2019, espera-se que maiores volumes sejam exportados. Frente a este panorama positivo, melhorias na cadeia produtiva tendem a tornar o setor ainda mais competitivo no mercado mundial.
Uma gestão das fazendas mais tecnificada e assertiva propiciará redução de custos e maior sustentabilidade na cadeia produtiva.
Hoje em dia, existem muitas prestações de serviços com drones, imagens de satélites e sensores acoplados ou não às máquinas agrícolas.
As “novas” tecnologias, que na realidade já são consolidadas há muito tempo, podem fornecer informações diversas aos produtores, desde contagem de gado, saúde da vegetação com mapas de NDVI, déficits hídricos, reboleiras nas culturas, mapas de volumes florestais, mapeamento de falhas, contagem de plantas, além de inúmeras outras informações.
A AP tem como fundamento o manejo diferenciado das lavouras. Existem muitas ferramentas que podem ser incorporadas a sua propriedade. Muitas delas a custo zero, por meio de aplicativos de celular ou programas computacionais gratuitos.
Cabe a cada produtor buscar soluções e ferramentas que melhor se adaptem ao seu sistema de produção, e dar mais um passo em direção ao futuro.