Natália Guarino Souza Barbosa é Professora Adjunta na Universidade Federal Rural da Amazônia – UFRA/ Belém-PA. Contato: ngsbarbosa@gmail.com
Historicamente, o búfalo no Brasil sempre foi criado principalmente de forma extensiva, ocupando grandes extensões de terra, com baixíssimo ou nenhum manejo e controle. Essa ainda é a realidade predominante da região Norte, particularmente na ilha do Marajó, localizada no estado do Pará, local com maior efetivo bubalino do ocidente terrestre.
Os produtores, que ainda desenvolvem suas atividades extensivamente, acreditam que há mais benefícios nos sistemas com baixo custo e pouca tecnologia porque entendem que o búfalo, por ser um animal rústico, não requer maiores cuidados, não visualizam a possível lucratividade da intensificação e/ou porque são produtores tradicionais, ou seus herdeiros, habituados com o sistema extensivo, utilizando-o quase que de forma cultural.
O búfalo se adapta bem aos três diferentes sistemas de criação. Observações de campo e relatos de produtores, entretanto, indicam que em sistemas extensivos o retorno de capital é muito baixo; em confinamento, a baixa produção leiteira da espécie demora para compensar o investimento, enquanto no semi-intensivo com pastejo rotacionado há retorno financeiro, com melhorias nos índices produtivos e reprodutivos. A produção de leite de búfalas em pastejo rotacionado traz, portanto, grandes benefícios.
Os estados do Sudeste e Sul são os que mais utilizam o pastejo rotacionado para búfalas leiteiras. As taxas de lotação das pastagens e produtividade animal variam conforme adubação, irrigação, calagem, correto manejo dos pastos e suplementação concentrada e/ou volumosa.
Bernardes (2016) detalha sua experiência de 46 anos produzindo búfalas leiteiras à pasto, intensificadas progressivamente. Partindo de pastagens naturais ou cultivadas de Brachiaria decumbens, com poucas divisões para pastagens de Brachiaria brizantha e MG5 com carga animal de cinco a seis UA/ha, com matrizes rotacionadas em pastoreio rotacionado irrigado com alta lotação de 15 a 16 UA/ha, no período favorável. O autor relata, que além da produtividade por área, houve discreta redistribuição dos partos, anteriormente concentrados no verão, que passaram a ser 20% antecipados para a primavera; aumento na taxa de fertilidade de 65% para 87% e percentual de prenhez aumentado de 67 para 92%. Ainda, segundo o autor, houve aumento no número de animais natimortos e/ou abortos, provavelmente em função da maior intensificação nas observações e coleta de dados.
Em relato pessoal, o produtor Marcelo Pimenta de Minas Gerais informou que produz atualmente 1.800 Kg de peso corporal/ha, com adubação corretiva de fósforo e potássio e 300 Kg de uréia por hectare. Nesse sistema, os animais produzem 7,3 kg de leite em média por dia, somente recebendo sal mineral como suplementação. A intenção é chegar a 9,0 Kg de leite/animal/dia até o ano de 2020.
Outro relato é do produtor Marcelo Prado, que produz búfalas leiteiras na Bahia e que atualmente mantém 10,5 hectares de piquetes irrigados, com 58 bubalinos ou 8,34 UA/ha.
Há diversos produtores utilizando o pastejo rotacionado em bubalinos leiteiros, principalmente nos estados de São Paulo e Minas Gerais. A região do Vale do Ribeira, em SP, é umas das referências atualmente.
Acredita-se que nos próximos anos haverá grande migração da produção de búfalos para o sistema de pastejo rotacionado, face sua conhecida rentabilidade. Recentemente, grandes produtores da ilha do Marajó começaram a destinar pequenas parcelas de suas propriedades à essa intensificação, visando maiores ganhos de peso, para o mercado da carne.
Seja para a produção de leite ou de carne, o certo é que o pastejo rotacionado para bubalinos precisa ser melhor estudado e difundido para que mais produtores migrem para esse sistema, sem receios do investimento necessário e, assim, em ambiente propício, possa o búfalo expressar sua provável superioridade produtiva, acobertada por mais de um século de subprodução.
Referência bibliográfica:
BERNARDES, O. Evolution of a Murrah buffalo dairy herd under intensive rotational grazing. In: World Buffalo Congress, 11, Cartagena – Colombia: Asociación Colombiana de Produtores de Bufalos, 2016. Disponível em: < http://revistas.ces.edu.co/index.php/mvz/article/viewFile/4059/2663> Acessado em 11/04/2019.