André G. Silveira, graduado em Análise e Desenvolvimento de Sistemas, Técnico em Agropecuária com habilitação em Topografia, Consultor e Assessor em Engenharia e Arquitetura, atua na área de Desenho Técnico desde 1996.

Este é o segundo de uma série de 10 artigos sobre AutoCAD para o Agro. No primeiro, que você pode ler aqui, foi ensinado sobre como configurar as unidades básicas de medida e começar o trabalho do jeito certo. Agora, dando continuidade, uma abordagem sobre duas ferramentas que muita gente pensa que são idênticas, mas que não são, e que, por causa disto, acabam usando uma quando a outra seria mais indicada.

A Linha e a Poli-linha.

Além de elas produzirem um resultado final muito semelhante, os botões ficam muito próximos um do outro, o que contribui para a confusão. A linha pode ser ativada pelo comando de teclado L, e a poli-linha pelo comando PL.

Dica: pra quem não sabe, para utilizar uma ferramenta via teclado, basta digitar o comando equivalente e teclar Enter. Isto gera o mesmo resultado de clicar no botão da ferramenta.

A linha e a poli-linha são encontradas também na aba Home.

Então, afinal, qual é a diferença entre elas? E por que não saber pode acabar fazendo você ter muito mais trabalho do que precisaria!

Experimentando

Vamos fazer um exercício bem rápido para deixar evidente a diferença.

Experimente desenhar uma linha e depois uma poli-linha na mesma tela, ambas com alguns vértices, para que fiquem semelhantes.

Agora, posicione o cursor ou clique sobre uma e depois sobre a outra. O resultado vai ser este:

Percebeu a diferença?

Quando utilizada a linha, cada segmento desenhado é um objeto independente, e pode ser selecionado, apagado, movimentado, copiado, ter a cor trocada, separadamente. Já quando utilizada a poli-linha, todo o conjunto de segmentos é um objeto único, e qualquer ação realizada sobre ele vai afetar a sua totalidade.

Mas o que isso implica na prática?

Imagine que você utilizou a linha e desenhou um objeto longo, com uma sequência, por exemplo, de 50 segmentos (pode ser uma cerca, uma estrada ou um córrego). Agora, pense em uma situação na qual você queira trocar a cor de todo esse longo objeto. Como utilizou a linha, você vai ter que selecionar todos os segmentos um a um. Ok... Você pode estar pensando: mas eu posso abrir uma seleção múltipla e pegar todos eles de uma vez só.

Então imagine que este é seu desenho:

Agora não é mais tão fácil, certo? Já não é tão fácil selecionar um conjunto de linhas de uma só vez sem acabar incluindo uma série de objetos que você não quer selecionar.

Se usar poli-linha no lugar de linha, basta um clique sobre qualquer parte do longo objeto, e você consegue alterar a cor dele todo de uma só vez.

Da mesma forma, imagine que você utiliza a poli-linha e está desenhando a folha do seu projeto. Suponhamos que seja uma folha em tamanho A1, com margens superior, direita e inferior de 1cm, e margem esquerda de 2,5cm.

Primeiro, você desenhou a linha externa da folha. Depois, com a ferramenta “Offset” (paralela), você quer lançar sua margem para dentro. Só que, como utilizou poli-linha, você não consegue selecionar separadamente cada lado da folha para lançar paralelas em distâncias diferentes. Lembra que a margem esquerda é diferente das outras? Você só consegue selecionar todo o retângulo de uma só vez.

Se usar linha no lugar de poli-linha, você consegue lançar diferentes margens para cada lado, e a mesma praticidade vale para qualquer situação em que se precise executar ações separadamente para cada segmento desenhado.

Então, quando uso uma e quando uso outra?

A melhor professora, neste caso, é a experiência que se ganha com a repetição. Conforme for desenhando, praticando, e principalmente tendo trabalho extra por ter usado a ferramenta menos adequada, vai se aprendendo qual é a melhor em cada situação.

Mas a regra básica é: se você precisa executar ações isoladas em cada segmento ou em alguns deles, a linha é indicada, e se precisa executar a mesma ação em todo o objeto, aí cabe melhor a poli-linha.

Por exemplo, a linha é muito indicada para o desenho da folha e para paredes de uma construção. Paredes podem ter espessuras diferentes umas das outras e, portanto, exigir ações isoladas para cada segmento. Já a poli-linha é incontestavelmente melhor para cercas, cursos d’água, estradas, e toda sorte de traços que se prolongam.

Já percebeu que a poli-linha vai ser muito mais presente em trabalhos do Agro, certo? A menos que você trabalhe com construções rurais, por exemplo.

Naturalmente, existem formas diferentes de resolver a situação quando se usa a ferramenta menos adequada. É possível inclusive desmontar uma poli-linha em várias linhas ou juntar várias linhas em uma poli-linha. Mas isso é assunto para o futuro, e o melhor vai ser sempre já fazer certo na primeira vez.

E o principal motivo deste artigo é dar a você a consciência de que existem as duas e quais são suas diferenças. Uma vez que você tem este conhecimento, passa a estar atento, presente, e pode ganhar boas horas de trabalho por ter escolhido bem na hora de desenhar.

Esta série continua. Como disse lá no início do artigo, este é o segundo de uma série de 10, e o próximo já envolve uma atividade prática e recorrente:

03/10 - Do papel para a tela: como desenhar uma área com base em um memorial descritivo ou tabela de dados

04/10 - Modos de seleção: você manipulando objetos como nunca pensou ser possível

05/10 - Text vs Dinamic Text: sabia que existe mais de uma forma de adicionar textos?

06/10 - O que você precisa saber sobre escala: é mais simples do que parece

07/10 - Cortar e estender: você está fazendo isto errado

08/10 - Object Snap: desenhando com precisão

09/10 - Sem GPS nem Estação Total: medindo e desenhando pequenas áreas irregulares somente com trena

10/10 - Como um profissional: medindo áreas em modo expert

Espero você nos próximos!