Este texto foi escrito por Guilherme Resende de Oliveira, Diretor de Negócios numa Cooperativa de Crédito do Sicoob em Luz/MG e Coordenador do Projeto Balde Cheio em Luz, formado no curso Técnico Agropecuário pelo CEFET - Bambuí e graduando em Administração de Empresas pela Fasf Unisa com contribuição de João Batista Tonaco Neto Engenheiro Agrônomo, formado pela Universidade Federal de Viçosa – Campus Rio Paranaíba/MG e sócio da Êxito Consultoria.

Frequentemente temos postando algumas matérias aqui no site onde o pastejo rotacionado é o protagonista da vez, não atoa, a tecnologia é uma importante ferramenta na redução do custo de produção da atividade leiteira, caso seja usada de forma eficiente, o que envolve sua correta implantação e manejo adequado, não somente da pastagem como da adubação.

Nos últimos dias temos visto algumas postagens, principalmente no YouTube, sobre altas lotações em sistemas de pastejo rotacionado e muitas dúvidas surgem a respeito do manejo. Gostaríamos de apresentar algumas das principais dúvidas de produtores e técnicos, explicando de forma prática e simples. 

Com altas lotações, as vacas comem somente pasto?

Não. Para uma dieta ideal, as vacas precisam receber doses de proteína e energia, além de minerais mesmo estando em uma pastagem de alta qualidade. Pastagens tropicais bem manejadas são ricas em proteína, por isso é necessário que os animais recebam suplementação de concentrado energético, para que não tenham um excesso de proteína na dieta e consequentemente causem problemas metabólicos, como diarreias, perda de peso e problemas reprodutivos.

Como se calcula a lotação?

Essa é uma pergunta interessante e vamos mostrar um exemplo prático. Esse é um sistema de pastejo rotacionado (imagem abaixo) com área de 1,3 hectares de capim Mombaça, onde na data de 21/10/2018 a lotação estava em 19 vacas com peso médio de 550 kg. O indicador usado para medir lotação é a U.A. (Unidade Animal) que corresponde a 450 kg de peso corporal. Mas veja bem, para se calcular essa lotação ainda é preciso considerar a suplementação (ração ou concentrado) que as vacas estão recebendo, ou seja, ela não come apenas a matéria seca presente no pasto, mas também na ração ou concentrado. No exemplo acima citado, encontramos uma lotação nesta data de 15 UA/ha, a qual é considerada uma ótima lotação. Nesta área específica, segundo dados do técnico que assiste a propriedade, o pico de lotação foi de 20,56 UA/ha e o momento com menor lotação atingiu 12,04 UA/ha. Vejam bem, há uma grande oscilação na lotação, a qual é influenciada por vários fatores, que serão observados na sequência.

Quais são os fatores e como isso é possível?

São 4 fatores que determinam o crescimento das pastagens; temperatura, luz, nutrientes (adubação química ou orgânica) e água. Esses fatores combinados entre si, que são mais frequentes no verão, quando se iniciam o período das chuvas, os dias são mais longos e as temperaturas mais altas, permitem o alcance do objetivo principal do manejo intensivo de pastagem: maior produtividade da pastagem com alto valor nutricional.

Veja que é necessária uma combinação de fatores, os quais são importantes para o crescimento, mas que sozinhos não fazem “milagre”. Ainda é importante entender o correto manejo de cada forrageira, realizar amostragem de solo periodicamente, período de descanso, período de ocupação de cada piquete, altura de entrada e saída (resíduo pós pastejo), além de outros conceitos como eficiência de pastejo, produção da pastagem para determinação da lotação e muito mais.

É possível sim, conseguir altas lotações em sistemas de pastejo rotacionado, mas exige conhecimento, disciplina e dedicação.

Hormônio na pastagem. Será que funciona?

Depende. Os hormônios atuam para diminuir o estresse da planta, e não devem ser usados em substituição aos adubos químicos (NPK). O uso de hormônios em pastagem ainda tem poucos trabalhos no meio científico, em países como a nova Zelândia já é comum o uso para a quebra de dormência após os meses de inverno. Entretanto em modos de produção tropical ainda não há pesquisas que possam comprovar se é viável economicamente a aplicação de hormônios ou biorreguladores de crescimento.

Qualquer produtor pode conseguir otimizar o uso da pastagem?

Claro que sim! Procure um técnico especializado em manejo de pastagem, estude muito sobre o assunto, visite outras propriedades, duvide daquilo que te contam e peça para ver o funcionamento na prática e execute seu projeto, viva diariamente o manejo e busque alcançar os melhores resultados para a sua atividade.

Qual o capim mais recomendado?

Parece conversa fiada, mas não é. O melhor capim é o que você já tem na propriedade. Caso haja a necessidade de uma nova formação, alguns fatores devem ser levados em conta, como o nível de fertilidade do terreno, o desnível, tipo de solo e a capacidade de drenagem. Também é preciso entender que existem capins com alta, média e baixa exigência em fertilidade. Vamos citar alguns exemplos, Tifton e Jiggs são capins com alta exigência, Mombaça, Brachiaria brizantha cv. Marandu (brachiarão), Piatã e MG-5 possuem média exigência em fertilidade e por último os capins com baixa exigência em fertilidade como é o caso da Brachiaria decumbens, ruziziensis e humidícola. Pense bem antes de escolher o capim para o seu sistema de pastejo rotacionado. Não adianta colocar um capim altamente exigente em fertilidade de solo, sem dar a ele o que realmente merece.

Conclusão!

Para obter altas lotações, é preciso um conjunto de fatores, que passam a ser caracterizados desde a formação da pastagem, até o horário da adubação nitrogenada, por isso também ressaltamos que plantas e forrageiras estão relacionadas a fatores biológicos, ou seja, não é uma matemática exata, então é preciso ser muito preciso para minimizar os erros. Continue nos acompanhando, em breve traremos mais informações sobre o pastejo rotacionado.

Esse foi o primeiro artigo sobre as principais dúvidas no uso do pastejo rotacionado. Em breve, vamos abordar outros tantos relacionados ao assunto como quantos piquetes devemos fazer e muito mais.