Marcos Neves Pereira é professor titular do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Lavras. Possui graduação em Medicina Veterinária pela Escola de Veterinária da UFMG (1987), mestrado em Zootecnia (Produção Animal) pela Escola de Veterinária da UFMG (1992) e doutorado em Dairy Science (Nutrição) pela University of Wisconsin-Madison (1997). Marcos Neves agora é colaborador do site cursosbaldecheioluz.com.br, com postagens mensais sobre o tema nutrição.
A formulação de dietas exige o uso prático da matemática na definição de custos alimentares, exigências nutricionais e composição de dietas, mas a fisiologia nutricional dos ruminantes não é menos importante. O rúmen se encontra no início do trato digestivo, tendo, portanto, fácil acesso. Alimentos ingeridos primeiramente sofrem digestão anaeróbica por microrganismos ruminais. Apesar de ser interesse da nutrição atuar sobre outros órgãos do animal, como intestinos, glândula mamária, fígado, tecido adiposo e tecido ósseo, principalmente, muitos conceitos em nutrição de vacas leiteiras têm como meta a obtenção de eficiência máxima da fermentação ou a manutenção da normalidade fisiológica do rúmen.
A presença do rúmen é a principal particularidade da nutrição de ruminantes comparativamente à nutrição de animais monogástricos (suínos e aves, principalmente). Apesar de existirem vários conceitos em comum, a nutrição de vacas leiteiras difere da nutrição de gado de corte: 1) Vacas leiteiras têm alta demanda nutricional, o que pode resultar em balanço negativo de nutrientes no início da lactação (demanda nutricional maior que o consumo), especialmente cálcio, energia e proteína, podendo resultar em distúrbios metabólicos. 2) O alto consumo diário de matéria orgânica fermentável no rúmen requer alta absorção de ácidos graxos voláteis (a maior fonte de energia para o animal), o que associado ao grande volume do rúmen de vacas leiteiras (comparativamente ao rúmen de bovinos de corte), aumenta a propensão a acúmulo de ácidos na câmara de fermentação (acidose ruminal), que pode causar parada ruminal, timpanismo, deslocamento de abomaso, ou morte. 3) Em vacas leiteiras existe a meta nutricional de se obter longevidade, boa eficiência reprodutiva e saúde. A formulação de dietas para vacas leiteiras também tem especificidades, já que a meta pode ser o melhor desempenho econômico e a máxima eficiência biológica em animais de produção, o máximo desempenho produtivo em animais de torneio leiteiro, ou a evidenciação da morfologia em animais de exposição, por exemplo.
Porque formular dietas?
A necessidade de formular dietas é definida pela adoção ou não de alimentos concentrados. Em sistemas de produção de leite exclusivamente a pasto não existe a necessidade de formular dietas, já que todo o aporte nutricional ao animal vem da pastagem. Em vacas leiteiras de alta produção, e portanto com alta excreção diária de nutrientes pela glândula mamária, a demanda por nutrientes é alta comparativamente a vacas leiteiras criadas em sistemas de produção adotando animais mais adaptados ao pastoreio. Entretanto, o potencial produtivo dos animais não define a necessidade de formulação de dietas, todos os animais consumindo concentrados deveriam ter sua dieta formulada para que o insumo seja utilizado da maneira mais eficiente possível. Em sistemas de produção de leite adotando alimentos concentrados estes normalmente são o maior item de custo da atividade leiteira.
A opção de produção de leite da pecuária leiteira brasileira foi pelo uso de alimentos concentrados. Alimentos concentrados são o maior item de custo em sistemas de produção de leite, seja onde a forrageira em forma fresca é colhida pelo animal em pastoreio ou quando a forragem conservada é fornecida aos animais no cocho, citando dois extremos de manejo alimentar. A indústria leiteira brasileira utiliza alimentos concentrados, pois temos disponibilidade deste insumo no país e suplementar vacas com concentrados normalmente induz retorno financeiro maior que o custo do insumo. O uso de concentrados pode aumentar a produtividade do animal, da terra e da mão-de-obra, pode aumentar a taxa de lotação da fazenda, pode reduzir a necessidade de produção de forragem por unidade de leite produzido, e pode compensar a baixa qualidade da forragem disponível, dentre outros efeitos.