As tendências futuras do setor agropecuário envolvem um cenário de grande aumento de consumo de alimentos, mudanças na composição das dietas (com elevação do consumo de proteínas), influência das mudanças climáticas globais e da limitação dos recursos naturais, levando a necessidade de práticas mais sustentáveis segundo estudo da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, 2018a).

A adoção de novas tecnologias e inovações, então, aparece como alternativa importante e viável para o enfrentamento dos desafios futuros e como forma de aproveitamento de oportunidades que venham a surgir no setor. Juntamente com o desenvolvimento e a disseminação, a adoção de novas tecnologias é um caminho que vem se intensificando para minimizar perdas, reduzir resíduos derivados da atividade e aumentar a produtividade de forma ambiental, social e economicamente sustentável.

O Brasil é considerado o celeiro de alimentos do mundo, um dos líderes de produção e exportação, tanto de cultivos sazonais, como soja, milho e cana-de-açúcar, quanto de cultivos perenes, como laranja e café. No que diz respeito ao café, só a sua variante arábica teve uma produção de mais de 1,9 milhão de toneladas em 2017. A pecuária brasileira não fica atrás e conta atualmente com 214,9 milhões de cabeças de gado (IBGE, 2019). O Brasil também é um dos maiores produtores mundiais de leite, com produção superior a 33 bilhões de litros de leite.

Diante de tantas oportunidades, um movimento tecnológico começa a ser desenhado e surgem as AgTechs. O termo AgTech também vem sendo utilizado para fazer referência a este setor econômico emergente, que tem potencial para transformar totalmente o setor agropecuário em âmbito global por intermédio de grandes incrementos de produtividade associados a uma redução de custos ambientais e sociais das práticas produtivas (Dutia, 2014). Esse segmento envolve empresas startups e corporações cuja atuação é embasada pelo uso intensivo de tecnologias agropecuárias no oferecimento de produtos e serviços, bem como no desenvolvimento de novos modelos de negócios, oferecidos para os segmentos do setor agropecuário. O segmento de startups AgTechs ganhou notoriedade globalmente a partir do ano de 2013, com a aquisição da empresa de análise e gerenciamento de risco climático, a Climate Corporation, pela Monsanto, por 930 milhões de dólares. Esse seria o primeiro unicórnio desse segmento.

AgTechs no Brasil

As informações acima são do Radar AgTech Brasil 2019, que buscou mapear e identificar a presença das startups atuantes no segmento agroalimentar brasileiro. Os resultados encontrados evidenciam a força desse segmento e seu ecossistema de empreendedorismo, com a identificação de 1.125 startups, das quais 90% estão situadas nas regiões Sul e Sudeste do País. 

Olho do Dono – Precisão na Pecuária

Pedro Henrique Manato é formado e mestre em Ciência da Computação pela UFES – Universidade Federal do Espirito Santo. Abriu sua primeira Startup em 2005 e hoje é um dos fundadores e CEO do “Olho do Dono”. A AgTech Olho do Dono é uma dessas startups mapeadas pelo Radar AgTech Brasil 2019 e atua na pesagem de bois com câmera 3D portátil (pesagem individual ou lotes), sendo uma das mais promissoras do mercado com premiações internacionais, foi vencedor do 1º TechCrunch Startup Battlefield da América Latina, vencedor como melhor Startup Agro do Brasil pelo Intercorte e uma das vencedoras do 1º Fineup Startup.

Benefícios

Acompanhe a evolução de peso individual e do rebanho, identificando os bois doentes e os que precisam de alguma atenção; verifique a eficiência da suplementação alimentar; tenha certeza do melhor momento de vender o gado, identificando o “boi ladrão” e o que continua engordando e; saiba quais linhas genéticas tem melhores e piores resultados na curva de ganho, melhorando sua próxima compra.

Utilização Simples e Prática

Para a utilização do equipamento não é necessário estar conectado a internet; posicione a câmera 3D portátil. O Olho do Dono gravará automaticamente toda vez que um boi (se tiver um brinco eletrônico e uma antena de alcance, já reconhece automaticamente o boi também) passar. Dependendo do seu manejo, é possível passar sem estresse 250 bois em 20 minutos (afinando a porteira, corredor, etc) com 02 vaqueiros (se a câmera for fixada em ponto de passagem do animal com estrutura que afina naturalmente, não precisa de vaqueiros manejando). Ao terminar, aperte o botão pesar no laptop para ver o peso e relatórios. Isso pode ser feito no escritório da fazenda. Com o equipamento é possível a tomada de decisões conhecendo o ganho de peso, direcionando ainda animais para o tratamento, para venda, melhoria genética, suplementação e diversas outras informações (se estiver conectado à internet, o gestor poderá consultar essas informações também online e no celular).

Como Surgiu a Ideia

Em conversa com a equipe do Balde Cheio Luz, Pedro deu detalhes de como surgiu a ideia. “O olho do dono começou a ser desenvolvido em 2015, na verdade a ideia que deu origem a ela foi no final de 2013, um amigo meu estava prestando consultoria financeira para uma grande fazenda de pecuária de corte e me procurou falando da dificuldade que estava enfrentando. Ele tinha que fazer cálculos financeiros e não conseguia fazer cálculos de custo de oportunidade porque tudo era baseado em estimativa. A fazenda dizia ter 30 mil cabeças de gado, mas poderia ter 29 mil ou 31 mil e mesmo que soubesse que era 30 mil cabeças de gado ele não sabia o peso do rebanho, ou seja, o valor financeiro do rebanho está no peso. Com a dificuldade de deslocar o boi até o curral, na maioria das vezes andando longas distâncias para ser pesado, também não bebe água, não se alimenta regularmente, podendo ainda sofrer acidentes no trajeto, além de precisar de bastante mão de obra para se fazer o serviço”, salienta Pedro. Foi aí que nasceu o Olho do Dono.

Ainda segundo Pedro, o “Olho do Dono” é muito simples de usar. “Essa tecnologia que a gente desenvolveu usa câmera 3D e é portátil, então cabe tudo em uma mochila, você monta rapidinho em menos de 2 minutos no pasto, posiciona a câmera onde o boi passa e aí o sistema vai filmando e vai sendo computado automaticamente”, reforça.

Para saber mais sobre a AgTech acesse o site: https://olhododono.agr.br/