Marcos Neves Pereira é professor titular do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Lavras. Possui graduação em Medicina Veterinária pela Escola de Veterinária da UFMG (1987), mestrado em Zootecnia (Produção Animal) pela Escola de Veterinária da UFMG (1992) e doutorado em Dairy Science (Nutrição) pela University of Wisconsin-Madison (1997). Marcos Neves agora é colaborador do site cursosbaldecheioluz.com.br, com postagens mensais sobre o tema nutrição.
É frequente escutar que sistemas de produção de leite adotando pastagens têm baixo custo de produção. Entretanto, nem sempre este fato é verdadeiro. Pastagens com certeza têm menor custo por kg de matéria seca que forragens conservadas (silagens ou fenos). Entretanto, forragens representam apenas 10 a 15% do custo de produzir leite em fazendas que utilizam alimentos concentrados, que são a grande maioria das fazendas brasileiras. Nestes casos, os alimentos concentrados sempre são o maior item de custo (normalmente de 40 a 60% do custo total).
Ao se optar por uma forragem barata, mas de baixa digestibilidade por kg de matéria seca (devido ao alto teor de fibra em detergente neutro), pode ser requerido mais concentrado por litro de leite para se manter a mesma produção por animal, o que pode aumentar o custo de produção, mesmo com uma forragem mais barata. Outro ponto é que se o gado for movido para a forragem barata e de menor digestibilidade, sem se ajustar o teor de concentrados na dieta, a produção de leite por vaca pode cair e o custo por litro de todos os itens de custo pode aumentar.
Menos leite por vaca também resultará em menor renda sobre o custo alimentar [Renda bruta do leite - (custo de forragens + custo de concentrados)], o valor disponível por vaca para pagar os custos não alimentares que são fixos por animal (medicamentos, sêmen, reposição, manutenção de ordenha, mão de obra, etc.) e propiciar a retirada de algum lucro por vaca instalada. O leite mais barato por litro e o maior lucro por vaca por dia pode não ser obtido na forragem mais barata.
A importância contábil de concentrados e forragens é demonstrada neste levantamento de custos do serviço de assistência técnica da Cooperativa Castrolanda, do Paraná, entre 2004 e 2005. Estes dados foram obtidos em fazendas assistidas continuamente e vendendo leite e comprando insumos do mesmo local. As 59 fazendas foram divididas naquelas com utilização maior (A), menor (B) ou nula (C) de pastagens. As fazendas com maior utilização de pastagens eram menores, tinham menos vacas e utilizavam menos mão de obra por dia, mas produziam menos leite por trabalhador e por hectare. Observe que foi baixo o efeito da forrageira utilizada sobre o custo de produção do litro de leite e sobre a participação de forragens e concentrados como proporção do custo total. Concentrados representaram mais de 30% e forragens menos de 15% do custo de produzir leite. A maior receita líquida por litro de leite e a maior taxa de retorno do capital foi observado nas fazendas com utilização nula de pastagens. A eficiência no uso de alimentos concentrados tem alta capacidade de impactar financeiramente uma fazenda leiteira.
Reduzir o custo de alimentos concentrados por litro de leite produzido pode ter alto impacto sobre a eficiência da produção leiteira. Algumas estratégias podem ser efetivas para reduzir o custo de concentrados por litro de leite: 1) Vacas mais produtivas diluem o custo nutricional da mantença e são mais eficientes biologicamente (é mais eficiente produzir 40 L de leite com o corpo de uma vaca de 40 L do que com os corpos de 4 vacas de 10 litros). 2) Forrageiras de alta digestibilidade reduzem a necessidade de alimentos concentrados por litro de leite produzido. 3) A compra eficiente de concentrados ou o cultivo de concentrados na fazenda pode reduzir o custo por kg de concentrado. 4) A formulação de dietas é uma ferramenta para direcionar o uso racional de alimentos concentrados, cuja composição depende da quantidade e qualidade da forragem disponível e da vaca sendo alimentada.