Adilson de Paula Almeida Aguiar - Zootecnista, professor de Forragicultura e Nutrição Animal no curso de Agronomia, de Forragicultura e Pastagens e Plantas Forrageiras no curso de Zootecnia nas Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC - Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda; Investidor nas atividades de pecuária de corte e de leite.

Em parceria com um dos maiores especialistas de pastagem do Brasil, Adilson Aguiar, traremos uma série de artigos voltados a informação dos nutrientes e sua importância no uso da intensificação das pastagens.

Introdução

Atualmente, mais da metade da pecuária bovina se encontra nos estados do Brasil Central em pastagens implantadas em solos ácidos, pobres em fósforo, cálcio, magnésio, zinco, enxofre, nitrogênio, potássio, cobre, boro, matéria orgânica e com níveis tóxicos de alumínio e manganês.

Em seu livro “Solos sob Cerrado”, Lopes (1984) descreveu os níveis médios dos principais componentes destes tipos de solos como sendo muito baixos e baixos. Com estes níveis, a produção de forragem é suficiente apenas para suportar taxas de lotação animal entre 0,41 a 0,48 UA/ha/ano (AGUIAR, 1997).

Essa baixa lotação animal caracteriza um grande desperdício de recursos climáticos tão favoráveis desta região, tais como: índices pluviométricos entre 1.200 e 2.000 mm/ano, temperaturas médias acima de 22ºC e alta intensidade luminosa; solos planos e profundos; potencial de produção das plantas forrageiras tropicais; e determina que, naquelas condições, a produção animal a pasto seja uma das piores alternativas de uso da terra quando comparado com outras culturas.

Quando esses recursos ambientais são explorados com eficiência, se podem estabelecer altas produtividades em sistemas de pastagens, com lotação animal entre 2,0 a 20,0 UA/ha, durante a primavera-verão; produtividade da ordem de 300 a 3.600 kg/ha/ano (150 a 1.800 kg de carcaça/ha/ano); e produção de leite entre 5.000 a 60.000 kg de leite/ha/ano. Com esses níveis de produção animal, os sistemas de produção de leite e carne a pasto passam a ser muito competitivos com alternativas de uso da terra. Entretanto, a nossa realidade ainda é a exploração de lotação média de 0,5 UA/ha, produção de 42 a 180 kg de peso vivo/ha/ano (21 a 90 kg carcaça/ha/ano) e 280 a 1.200 kg de leite/ha/ano (AGUIAR, 1998).

As causas que levam as estas baixas produtividades são muitas como demonstrou Aguiar, (1996). A causa mais citada nos trabalhos sobre produção a pasto é a influência da baixa fertilidade dos solos sob pastagens.

Nos últimos anos, tem aumentado, consideravelmente, o número de produtores que tem intensificado a produção em pastagem fazendo uso de fertilizantes. Nesse contexto, as preocupações já devem ser outras, tais como: manejo incorreto do pastejo eliminando os efeitos benéficos da adubação, baixo desempenho animal também eliminando os efeitos benéficos da adubação, escolha inadequada das fontes de fertilizantes, erros no manejo de aplicação dos corretivos e fertilizantes e riscos de contaminação do meio ambiente. 

Nitrogênio

A deficiência deste nutriente tem sido apontada como a principal causa para a redução da produtividade e degradação das pastagens. Isto ocorre em pastagens que não recebem adubação nitrogenada ou que recebem em baixos níveis. É comum ter recomendações de 40 a 80 kg de N /ha/ano, como sendo as mais econômicas já que o conceito é de que aplicar N nas pastagens não é economicamente viável, mas a resposta das plantas forrageiras tropicais ao N é alta e linear até 400-600 kg de N /ha/ano (CORSI et al., 2000). Se a resposta é linear até 600 kg, significa que para cada 1 kg de N aplicado será obtida uma mesma resposta em termos de kg de MS para 40 kg de N /ha/ano a até 600 kg. 

A dinâmica deste nutriente é muito complexa e cheia de características particulares. Possui grande mobilidade no solo; sofre inúmeras transformações mediadas por microorganismos; possui alta movimentação em profundidade; transforma-se em formas gasosas e se perde por volatilização; tem baixo efeito residual; não é fornecido pelas rochas de origem dos solos, sendo a principal fonte de N às plantas o gás N2 que compõe 78 % do ar atmosférico, mas não pode ser absorvido desta forma.

Cálculos para a Recomendação de Adubação Nitrogenada

Segundo Malavolta (1989), a porcentagem de N na MO pode ser obtida dividindo-se a % de MO por 20. Assim, num solo com 2 % de MO teríamos 2 % ÷ 20 = 0,10 % de N ou 2.000 kg de N na camada de 0 a 20 cm de profundidade, considerando 2.000 t de terra/ha. Se a mineralização da MO ocorrer numa taxa de 4 % por ano teremos 2.000 kg N x 4 % = 80 kg /ha/ano ou 40 kg/ ha/ano para cada 1 % de MO.

Entretanto, Van Raij et al., (1996) não recomendam correlacionar os teores de MO do solo com a disponibilidade de N para as culturas. Mas é comprovado que os efeitos do N proveniente da MO e dos fertilizantes são aditivos, fazendo com que a exigência do N-fertilizante mostre-se inversamente relacionada ao N do solo.               

Segundo Corsi e Nússio (1993), nas forrageiras tropicais, para cada 1 kg de N aplicado ocorre uma produção de 40 a 70 kg de MS. Considerando em média 55 kg de MS/ kg N x os 80 kg de N /ha/ano liberados, conforme exemplo acima, teremos 4.400 kg de MS produzida, se outros fatores de crescimento não forem limitantes. 

Segundo esses autores, quanto maior for o período de descanso da pastagem maior será a recuperação do N aplicado.

Cantarutti et al., (1999) elaboraram um guia para a adubação nitrogenada de acordo com o nível tecnológico desejado (Tabela 1). Dividiu o nível tecnológico em quatro níveis de acordo com a taxa de lotação desejada e ainda orientaram o manejo de aplicação. Estas orientações são as que atualmente mais se aproximam do que se espera para recomendação de adubação de pastagens no futuro, com base em níveis de extração para se alcançar metas de produtividade.

Segundo Corsi et al. (2004), na década de 80, o nível econômico de adubação nitrogenada foi estabelecido em 150 kg N/há ano, mas comentaram que recentemente Lugão et al. (2001) definiu que os melhores retornos econômicos foram obtidos com 419 kg/há ano.

Épocas e Formas de Aplicação

Lopes e Guilherme (1990) comentaram como aumentar a eficiência da adubação nitrogenada: a) Parcelamento da adubação. A adubação deve ser parcelada em três a quatro vezes quando a dose de N for maior do que 120 kg/ha/ano, o que está de acordo com as orientações de Cantarutti et al. (1999), as quais acabamos de citar; em solos com baixa CTC; em solos muito arenosos; em áreas sujeitas a chuvas de grande intensidade; b) No caso de uso da irrigação esta deve ser realizada logo após a distribuição do adubo para a sua rápida solubilização, ou através de fertirrigação; c) Utilizar fertilizantes nitrogenados de disponibilidade controlada, como uréia protegida com gesso, para evitar as perdas de N.

Corsi e Nússio (1993) recomendaram a adubação nitrogenada quando houver equilíbrio entre nutrientes e na época das chuvas. Também recomendaram o parcelamento da adubação com N para aumentar a eficiência de utilização por parte da planta.

Perdas de N

As perdas de N no sistema ocorrem sob as formas de lixiviação, que predomina em solos arenosos; a volatilização predomina em plantio direto e pastagem e a denitrificação, que ocorre em todos os tipos de solos para o NO3 em condições de anaerobiose.

A forma amoniacal (NH4+) concentra-se mais nas camadas mais superficiais do solo, enquanto que a forma nítrica (NO3-) tende a se movimentar mais para camadas mais profundas do solo, daí a maior ocorrência de perdas desta forma por lixiviação.

Na Pastagem, o N perdido representa em torno de 30% do N aplicado; em torno de 40% fica imobilizado nos tecidos das raízes, da coroa da planta e da micro-vida do solo, sendo passível de reciclagem. Do total de N aplicado, a planta recupera 70%.

Corsi (1994) afirmou que até 80% do N pode ser perdido sob condições inadequadas de aplicação, mas até 80% pode ser recuperado quando aplicado corretamente. Apenas através da volatilização de N2O e de N2, as perdas podem chegar a 30% do N adicionado na adubação. Em média, considera-se uma perda de N dos fertilizantes da ordem de 30 a 50%.

Como Minimizar as Perdas de Uréia Aplicada em Cobertura

As perdas de N da uréia podem ser minimizadas pelo manejo da adubação, tal como a seguir: aplicar no final da tarde, quando a temperatura é mais baixa, pois temperaturas entre 20 e 40º C aumentam as perdas de N; misturar a uréia com os superfosfatos simples e triplo, com MAP, com nitrato ou sulfato de amônio ou recobrir com gesso; a granulação da uréia diminui o seu contato com a urease do solo, diminuindo a sua hidrólise e as perdas por volatilização.

A aplicação de uréia sem incorporação é eficiente quando o solo está seco e ocorre uma chuva de no mínimo 10 a 15 mm dentro de 3 a 6 dias (VALE et al., 1995);

A maior recuperação do N da uréia ocorreu quando esta fonte foi aplicada em solo seco seguido de chuva abundante até sete dias após, corroborando com a citação de Vale et al. (1995).

Momento da Adubação Nitrogenada após o Pastejo

Em cultivos convencionais para a produção de grãos, a adubação com N está condicionada à presença de umidade no solo, e na pastagem existe a dúvida por parte de produtores e técnicos se o N deve ser aplicado ou não logo após o pastejo, mesmo em dias sem chuvas.

Corsi e Nússio (1993) sugeriram que a aplicação de N deveria ser feita logo após a saída dos animais do pasto, pois os perfilhos dos capins tropicais são produzidos quase totalmente na primeira semana após o pastejo. Se a adubação é feita nesta época, ocorrerá aumento na produção de forragem a partir do aumento no número e no peso dos perfilhos. A taxa de expansão de folhas pode ser duplicada pela aplicação de N após o pastejo. A rápida expansão de folhas é de extrema importância para a rápida recuperação da pastagem após a desfolha. Sendo assim, o N deveria ser aplicado logo após o pastejo (CORSI e NÚSSIO, 1993).

Entretanto, Aguiar et al., (2003; 2004) fizeram uma revisão bibliográfica sobre o tema “momento da adubação após o pastejo” e encontrou os seguintes dados: Vicente-Chandler et al., (1959) avaliando o efeito da frequência de aplicação do N em colonião submetido a cortes e a pastejo simulado concluíram que a aplicação de N logo após a desfolha resultou em maior resposta em produção de forragem e recuperação do N em comparação com a aplicação 25 dias após. 

Corsi (1984) observou que os perfilhos que contribuíam com a produção de MS surgiam até oito dias após o corte e concluiu que o N deveria ser aplicado logo após já que esse nutriente tem um efeito marcante sobre o número e o peso dos perfilhos.    Entretanto, Premazzi et al. (1999) não encontraram diferenças no peso dos perfilhos e na produção de MS em capim Tifton 85 adubado no dia zero e no dia sete após o corte. Também Menezes et al. (2001) não encontraram diferenças entre os tratamentos: aplicação de 100% do N no dia zero, no dia sete ou no dia 14 após os cortes, sobre o número e o peso dos perfilhos e a produção de MS.

Vicente-Chandler et al., (1959) trabalharam em canteiros e sob regime de cortes. Corsi (1984) e Premazzi et al., (1999) trabalharam em casa de vegetação. Já Menezes et al. (2001) trabalharam em condições de campo, mas em regime de cortes e a área era irrigada. A análise desses resultados conflitantes demonstra uma inconsistência e a escassez de informações em áreas pastejadas. 

Aguiar et al., (2003; 2004) conduziram um experimento em área de capim Mombaça submetido ao pastejo por bovinos, cujo objetivo foi o de avaliar o efeito do momento da adubação com 1, 7 e 14 dias após o pastejo sobre algumas variáveis de crescimento da pastagem. Na Tabela 2, observam-se os resultados para a variável taxa de acúmulo de forragem.

Observa-se que não houve efeito do momento da adubação sobre a taxa de acúmulo de forragem em nenhuma das estações do ano durante o período de avaliação, indicando que o manejo de aplicação da adubação pode ser mais flexível. A despeito desses resultados, os autores concluíram recomendando a aplicação logo após o pastejo devido às questões práticas em nível de campo. Na verdade, os autores estavam interessados em saber se a aplicação do N logo após o pastejo não daria a menor resposta em produção de MS comparado com os tratamentos com 7 e 14 dias, devido à maior exposição do solo, à radiação solar e ventos e devido à menor cobertura foliar do relvado que foi pastejado recentemente.

A absorção de N também ocorre sob condições de estresse hídrico, mas não ocorre a expansão celular. Esta expansão ocorrerá quando houver disponibilidade de água, provocando uma resposta compensatória no crescimento da planta forrageira.

N e Manejo do Pastejo

Segundo Corsi e Santos (1995), a dependendo do princípio adotado no manejo de pastagem, fica impossível elevar a produtividade do sistema de produção. O manejo da pastagem, baseado no princípio da preservação do meristema apical, é extremamente limitante para a obtenção de elevadas produtividades. 

Em sistemas intensivos de produção, devemos explorar o potencial de perfilhamento basal da planta ao mesmo tempo em que devemos procurar a combinação entre a disponibilidade de forragem e a exigência nutricional do animal (CORSI, 1988). 

Corsi et al. (2004)b comentaram que, provavelmente, dificuldades em manejar pastagens com elevado nível de fertilidade, representados pelo manejo do pastejo (frequência, intensidade, duração do pastejo e etc), pela programação das adubações no tempo e horas adequadas para a melhor resposta desse insumo e, principalmente, pela falta do planejamento para equilibrar a produção de forragem com a demanda do rebanho, sejam responsáveis pela manutenção de níveis baixos de adubação e das taxas de lotação.

As frustrações mais frequentes de produtores que exploram pastagens intensivamente têm sido a falta de planejamento que impede a previsão de respostas das adubações integradas ao manejo das pastagens. Tanto a falta como a sobra de forragem em sistemas intensificados motiva frustrações e provocam prejuízos.

Outro tópico interessante em relação ao N e ao manejo do pastejo está relacionado à intensidade de pastejo sobre a planta e à proporção de tecidos que ficam remanescentes no resíduo pós-pastejo e o peso do sistema radicular. Resultados de pesquisas demonstram que, uma semana após a desfolha, o decréscimo no conteúdo de N nas raízes e nas folhas pode ser de 47 e 43%, respectivamente, sinalizando a maior re-mobilização de reservas nitrogenadas da planta que ocorre rapidamente e de forma intensa após a desfolha que busca o restabelecimento da cobertura vegetal e a retomada da atividade fotossintética. De 70 a 80% do N presente na parte aérea da planta, na primeira semana após o corte ou pastejo, pode ser proveniente da translocação a partir de raízes e hastes, sendo o restante proveniente da absorção de N a partir do solo.