Adilson de Paula Almeida Aguiar, Zootecnista, Especialista em Didática do Ensino Superior, em Solos e Meio Ambiente e em Produção Animal em Pasto; professor e pesquisador na FAZU de Forragicultura e Nutrição Animal no curso de Agronomia, de Forragicultura e de Pastagens e Plantas Forrageiras no curso de Zootecnia; foi coordenador técnico dos cursos de pós-graduação em Manejo da Pastagem e de Nutrição e Alimentação de Ruminantes; palestrante, consultor de projetos de pecuária de corte e de leite da CONSUPEC – Consultoria e Planejamento Pecuário; investidor nas atividades de pecuária de corte e de leite.
O primeiro passo a caminho da prevenção do processo de degradação da pastagem: a escolha da espécie forrageira. Antes da avaliação dos critérios para a escolha da espécie forrageira, o técnico que assiste ao produtor deve estudar o ambiente, compreendendo este o clima, o solo, as pragas e as doenças de ocorrência na propriedade e região. Com estas informações e dados o técnico busca nas fontes de informação (Anais de Congressos e Simpósios, teses e dissertações de pós-graduação, DVDs, Internet, consulta a pesquisadores e outros técnicos...) as características das diferentes espécies forrageiras.
Agora vamos aos critérios para a escolha da espécie forrageira
1. Exigências climáticas: descartar das opções todas aquelas forrageiras que exigem um índice pluviométrico acima do índice da região e que não tolerem geadas, se é comum a ocorrência destas na região em questão. O técnico tem como fonte de informação a publicação do Departamento Nacional de Meteorologia (DNMET) que apresenta valores das normais climatológicas referentes ao período de 1961 a 1990 de 209 estações meteorológicas (atualmente são 394 estações) com médias históricas para 9 parâmetros (atualmente são 29 parâmetros).
2. Exigências em solo: descartam-se aquelas forrageiras que não se adaptam às características do solo que o homem não consegue alterar, tais como relevo e profundidade. Depois aquelas que não se adaptam a solos mal drenados e por último aquelas que são exigentes e muito exigentes em fertilidade de solo, em ambientes onde o solo é naturalmente de fertilidade muito baixa e baixa e por alguma razão não for viável a sua correção e adubação.
O técnico tem como fonte de informação o mapa de solos da EMBRAPA que traz 42 classes de solos e suas associações. Identificada a classe que predomina na região onde se encontra a propriedade basta ao técnico recorrer aos livros de solos e estudar as características daquela classe em questão. Depois amostrar o solo na área em questão para a análise laboratorial.
3. Comportamento frente a pragas e a doenças: descartar aquelas forrageiras que sejam susceptíveis às pragas e doenças que aparecem no ambiente em questão, e escolher aquelas pelo menos moderadamente susceptíveis, dando preferência àquelas moderadamente resistentes e resistentes. Particular atenção deve ser dada à praga cigarrinha-da-pastagem e cigarrinha-da-cana devido ao grau de dano econômico que as mesmas causam.
4. Aceitabilidade pelos animais: descartar aquelas forrageiras que não são bem aceitas pela espécie animal que se pretende explorar, tais como as B. decumbens e o capim-braquiarão para o plantio de pastagens para equinos. Para ruminantes não há diferenças significativas em aceitabilidade para diferentes espécies forrageiras, desde que estas estejam separadas em piquetes separados, ou seja, o animal só vai exercer a preferência por uma determinada espécie se no piquete houver misturas de forrageiras, pois do contrário, ele consumirá forragem e apresentará desempenho de forma semelhante. Em tempo, o termo palatabilidade não se aplica aqui porque o pesquisador não tem como medir este parâmetro de forma quantitativa, enquanto a aceitabilidade pode ser medida e comparada através de protocolo de pesquisa já padronizado.
5. Distúrbios metabólicos causados aos animais: descartar aquelas forrageiras que causam distúrbios em uma determinada espécie animal ou em uma categoria dentro da espécie. Como exemplo, as distrofias ósseas em equinos causadas por excesso de oxalato em algumas forrageiras, a fotossensibilização em bezerros, comum em pastagens de B. decumbens, a intoxicação por nitrato em pastagem de capim-tanner Grass (Braquiária-do-brejo).
6. Formas de plantio: toda forrageira pode ser implantada através de mudas, mas nem todas podem ser implantadas através de sementes. Esta segunda forma de plantio praticamente não tem restrições possibilitando o plantio em pequenas e em grandes áreas, pelos métodos, manual, ou por tração animal, ou tratorizado ou aéreo. O investimento para o plantio da pastagem pode ser duas a três vezes mais baixo quando o plantio é feito através de sementes comparado com o plantio por mudas, quase sempre feito manualmente.
7. Formas de uso: há que definir as finalidades de exploração da área em questão, ou seja – será exclusivamente para pastejo ou apenas para fenação ou ensilagem ou pré-secagem, ou formas destes usos combinadas em uma mesma área. Uma vez definida a forma de uso o técnico que assiste ao produtor irá definir o manejo da área: em caso de exploração sob pastejo definirá o método de pastoreio, as alturas alvos de manejo do pastejo, a frequência de pastejo; no caso de áreas para corte definirá a altura e a frequência de cortes etc.
8. Potencial de produção de forragem: é preciso ser definido pelo produtor com a orientação de um técnico para então se definir qual nível tecnológico da exploração deverá ser aplicado na área em questão: sem correção e sem adubação do solo, ou só com correção do solo; ou com correção e adubação sem ou com irrigação.
Há que se destacar aqui que haverá diferenças na produção de forragem apenas em ambientes em não equilíbrio, ou seja, com restrições climáticas ou de solos e sob o ataque de pragas e presença de doenças. Por outro lado, em sistemas em equilíbrio, sem aqueles tipos de restrições, e com manejo do pastejo orientado pelas alturas alvos de cada espécie forrageira, não haverá diferenças significativas no potencial de produção de forragem entre diferentes plantas forrageiras.
9. Qualidade de forragem: é comum os produtores e muitos técnicos perguntarem qual ou quais forrageiras são mais recomendadas para sistemas de produção de leite ou de carne, ou seja, eles querem saber qual, ou quais forrageiras, são de melhor qualidade.
Por que então não se incluiu nesta lista de critérios para a escolha da espécie forrageira o parâmetro “valor nutritivo” ou “qualidade de forragem”? É porque em ambientes em equilíbrio não há diferenças significativas para os parâmetros, valor nutritivo da forragem (composição química e digestibilidade), valor alimentício da forragem (valor nutritivo e consumo de forragem); e qualidade de forragem, avaliada pelo desempenho do animal, mas este assunto será tema de outro artigo – por favor, aguardem.
Observa-se deste resumo que os critérios são muitos, que a análise de cada um não é tão simples assim, exigindo conhecimentos profundos de fatores dinâmicos e complexos, tais como o clima, o solo, pragas, o manejo ..., ensejando a necessidade do produtor, ser orientado por um especialista.