Adilson de Paula Almeida Aguiar, Zootecnista, Especialista em Didática do Ensino Superior, em Solos e Meio Ambiente e em Produção Animal em Pasto; professor e pesquisador na FAZU de Forragicultura e Nutrição Animal no curso de Agronomia, de Forragicultura e de Pastagens e Plantas Forrageiras no curso de Zootecnia; foi coordenador técnico dos cursos de pós-graduação em Manejo da Pastagem e de Nutrição e Alimentação de Ruminantes; palestrante, consultor de projetos de pecuária de corte e de leite da CONSUPEC – Consultoria e Planejamento Pecuário; investidor nas atividades de pecuária de corte e de leite.
1. Definindo termos:
Há uma confusão entre os termos manejo da pastagem e manejo do pastejo, mas estes não são sinônimos. O manejo da pastagem é um conjunto de ações nos fatores solo (seu preparo, sua correção e adubação, sua irrigação ...), planta (manejo do pastejo, melhoramento genético de plantas forrageiras, consorciação de pastagens, manejos e controles de pragas, doenças e de plantas invasoras ...), animal (manejo do pastejo, suplementação e sanidade animal ...) e meio ambiente (fontes de água, sombreamento, integração pastagem-lavoura-floresta ..), que visam a produtividade da produção animal em pasto, enquanto o manejo do pastejo consiste no monitoramento e condução do processo de colheita da forragem produzida, pelos animais em pastejo, ou seja, o manejo do pastejo é um dos componentes do manejo de uma pastagem.
Este artigo tratará do tema o manejo do pastejo.
2. Respostas de plantas forrageiras e de animais a diferentes condições do pasto:
As respostas de plantas e animais podem ser compreendidas e um ponto de equilíbrio ótimo entre ambos pode ser encontrado se práticas ou estratégias de manejo fossem planejadas e idealizadas tomando por base como plantas e animais respondem a variações em estrutura dos pastos, verdadeiro elo e ponto de convergência dos processos envolvidos na produção animal em pastagens.
2.1. Respostas de plantas forrageiras:
a) Em pastoreio de lotação continua com taxas de lotação variáveis: o pastoreio de lotação continua, erroneamente conhecido no meio pecuário, por “pastejo continuo” pode ser caracterizado pelo uso de um piquete por lote de animais por um longo período de tempo, sem haver ciclos de pastoreios, ou seja, sem haver períodos de ocupação e de descanso.
Em pastos baixos, a produção de forragem é baixa devido à baixa produção de folhas, enquanto em pastos de altura média, a produção torna-se relativamente constante e próxima do máximo, em uma faixa de diferentes alturas. Em pastos altos, a produção é diminuída devido à alta taxa de morte de folhas.
Para o Cynodon (é o gênero das gramas coastcross, estrelas, tiftons) os resultados revelaram uma amplitude de condições de pasto de 10 a 20 cm, nas quais, as taxas de acúmulo de forragem foram relativamente constantes e máximas e para o capim-braquiarão equilíbrio semelhante ocorreu em pastos mantidos entre 20 e 40 cm.
Dentro da amplitude de 10 a 20 cm de altura, para Cynodon, e de 20 a 40 cm de altura, para o capim-braquiarão, a produção de forragem praticamente não variou, entretanto, nas alturas de 5 cm, para Cynodon e 10 cm para capim-braquiarão, houve aumento na população de plantas invasoras, diminuição das reservas orgânicas da planta e menor estabilidade no processo de perfilhamento (processo de brotação), indicando serem estas condições estressantes e insustentáveis para as plantas, levando a pastagem ao avanço no processo de sua degradação.
b) Em pastoreios de lotação alternada e rotacionada: o pastoreio de lotação alternada, pode ser caracterizado pelo uso de dois piquetes por lote de animais, neste método de pastoreio já têm os ciclos de pastoreios, ou seja, enquanto um piquete é ocupado outro piquete está em descanso. Já o pastoreio de lotação rotacionada, erroneamente conhecido no meio pecuário, por “pastejo rotacionado” pode ser caracterizado pelo uso de no mínimo três piquetes por lote de animais, neste método de pastoreio também têm os ciclos de pastoreio, com períodos de ocupação e de descanso dos piquetes de um módulo de pastoreio.
O conceito de índice de área foliar crítico (IAF crítico), condição na qual 95% da luz solar incidente é interceptada pelo pasto, originalmente descrito e aplicado com sucesso em plantas de clima temperado, se mostrou efetivo e válido também para gramíneas tropicais. Devido à dificuldade em se adotar a mensuração da interceptação luminosa como critério de manejo do pastejo em condições de campo (depende de instrumentação sofisticada), se usou a altura do pasto que se revelou como sendo um parâmetro consistente para substituir a interceptação luminosa independente da época do ano, altura de resíduo e estádio fisiológico da planta forrageira.
Sob as condições de pastejo intermitente, cuja modalidade mais comum é o pastoreio de lotação rotacionada, definiram-se duas condições de referência para a utilização dos pastos: a) uma de pré-pastejo (antes dos animais entrarem no piquete), de 95% e outra de 100% de interceptação luminosa (IL) para os capins Mombaça e Marandu (capim-braquiarão); uma de 90%, outra de 95% e outra de100% de IL para o capim-tanzânia; uma de 95% e outra de 100% de IL, e um período de descanso fixo de 28 dias para o capim-xaraés; uma de 95% de IL, e um período de descanso fixo de 27 dias para o capim-cameroom (cultivar de capim-elefante); b) outra de pós-pastejo (após a retirada dos animais do piquete), com alturas de resíduo de 30 e 50 cm para o capim-mombaça; 25 e 50 cm para o capim-tanzânia; 10 e 15 cm para o capim-marandu (capim-braquiarão) e um valor único de 15 cm para o capim-xaraés e de 45 cm para o capim-cameroom.
Para capim-mombaça a rebrota teve início imediatamente após o pastejo por meio de acúmulo de folhas e a partir de 95% de interceptação luminosa o processo de acúmulo sofreu mudança, passando de uma redução no acúmulo de folhas e aumento acentuado no acúmulo de hastes (caules) e material senescente (material velho).
O processo de florescimento do capim-mombaça, indesejável em sistemas de pastejo, foi efetivamente controlado através da associação entre o resíduo mais baixo (30 cm) e o pastejo mais frequente (95% de interceptação luminosa).
2.2. Respostas de animais:
A forma como o animal reage às variações estruturais do pasto compõe o que se conhece por comportamento ingestivo em pastejo. A estrutura do pasto é, ao mesmo tempo, causa e consequência do processo de pastejo. Neste contexto, manejar o pasto é uma arte, que pode ser vista pela criação de ambientes ideais ao processo de pastejo.
a) Em pastoreio de lotação continua com taxas de lotação variáveis: as respostas de animais em pastejo em termos de consumo de forragem e desempenho animal estão correlacionadas com variações em estrutura do pasto, sendo que, de forma geral o consumo e o desempenho aumentam com aumentos em altura do pasto, a massa de forragem, o resíduo pós-pastejo ou a oferta de forragem. O aumento, contudo, tende a um limite específico para espécie e categoria animal.
Estudos com plantas forrageiras de clima tropical e subtropical têm indicado um padrão semelhante de resposta dos animais em pastejo. Entretanto, a amplitude de condições de pasto para desempenho agronômico adequado das plantas forrageiras é maior que a amplitude correspondente para o desempenho dos animais em pastejo. Para o capim-braquiarão o pastejo foi realizado por bovinos, em crescimento, com valores ótimos de consumo e desempenho acima de 30 cm de altura, condição de pasto que está dentro da faixa de 20 a 40 cm de altura para a produção eficiente de forragem para a planta forrageira (Tabela 1).
TABELA 1 – Valor nutritivo de amostra de pastejo simulado e ganho de peso de novilhas mantidas em pasto de capim-marandu com quatro alturas de pastejo durante o verão.
Dos resultados da Tabela 1 pode-se inferir que o valor nutritivo não é o limitante quando em condição de baixa oferta de forragem (altura do pasto de 10 cm) e sim o consumo de forragem pelos animais. Observa-se que há tendência de redução do valor nutritivo com o acréscimo na altura do pasto, entretanto, o desempenho animal respondeu de forma inversa, com aumento no ganho de peso em resposta a elevação da altura de pastejo.
Sendo assim, as diferenças em desempenho animal é consequência basicamente da quantidade de forragem ingerida, uma vez que a diferença em valor nutritivo é pequena, fato que acentua a importância de conhecer e compreender como se dá o consumo de forragem pelos animais em pastejo e como ele é afetado pelas práticas de manejo utilizada.
Na Tabela 2 estão sumarizados dados relativos às taxas de lotação e a produtividade por área em resposta às quatro condições de manejo do pastoreio neste experimento, dadas pelas diferentes alturas do pasto.
TABELA 2 – Ganho médio diário (GMD), taxa de lotação (TL) e produtividade por área com bovinos em pastos de capim-braquiarão submetidos a diferentes condições de pasto.
Houve decréscimo no ganho de peso e aumento na taxa de lotação com redução na altura do pasto. Neste caso a capacidade de suporte estaria dentro das condições de alturas entre 30 e 40 cm. Se o objetivo for maximizar o desempenho por animal, a altura de 40 cm deveria ser a buscada, enquanto na altura de 30 cm o desempenho por animal seria menor com produtividade por área semelhante, apesar de possibilitar maior eficiência de uso da forragem produzida.
É interessante enfatizar que apesar da redução na taxa de lotação de 5,4 para 2,3 cabeças/ha, ou seja, uma redução de 57%, a produtividade de carne por hectare aumentou de 263 kg para 570 kg de peso corporal, um aumento de 2,16 vezes, ou 116%, resultado que pode parecer um paradoxo para a maioria dos que trabalham em sistemas de pastejo, que focam bastante em simplesmente aumentar a taxa de lotação. Este resultado se deveu ao aumento no ganho médio diário (GMD) de 0,19 kg/dia para 0,93 kg/dia, um aumento de 4,89 vezes ou 389%.
b) Em pastoreios de lotação alternada e rotacionada: os pastejos iniciados com 95% de interceptação de luz (IAF crítico) pelo pasto resultam em forragem com valores mais elevados de proteína bruta e digestibilidade, consequência de uma maior proporção de folhas e menores proporções de caules e material morto na massa de forragem em pré-pastejo. O maior valor nutritivo traz respostas significativas no desempenho animal (ganho em peso ou produção de leite), quando os animais entram nos piquetes no momento adequado, ou seja, com altura adequada do pasto comparado com o manejo convencional adotado pela maioria dos produtores, com base em dias fixos de descanso e de ocupação.
Para o capim-mombaça, os tratamentos com pastejos iniciados com 95% de interceptação de luz pelo pasto (88,7 cm de altura) resultaram em forragem com valores mais elevados de proteína bruta e digestibilidade (Tabela 3).
TABELA 3 - Concentração de proteína bruta (PB) e digestibilidade in vitro da matéria orgânica (DIVMO) (%) da massa de forragem em pré-pastejo de pastos de capim-mombaça submetido ao pastejo com 95 a 100% de interceptação luminosa do dossel (janeiro de 2001 a fevereiro de 2002).
O maior valor nutritivo trouxe respostas significativas no desempenho animal, com aumento de 30% na produção diária de leite por vaca quando os animais entraram nos piquetes no momento adequado, ou seja, com altura de 90 cm (próximos aos 88,7 cm) do pasto comparado com o manejo convencional adotado pela maioria dos produtores, com base em dias de descanso (35 dias neste caso) (Tabela 4).
TABELA 4 - Produção diária de leite (kg/vaca/dia) em pastos de capim-mombaça pastejados a 90 ou 140 cm de altura por ocasião da entrada dos animais nos piquetes.
Respostas semelhantes foram obtidas nos trabalhos de Voltoline (2006) e Carareto (2007) avaliando capim-elefante cultivar cameroom, com aumentos de aproximados de 18% na produção diária de leite por vaca, 40% no aumento da taxa de lotação e aumentos próximos a 50% na produtividade por área (Tabela 5).
TABELA 5 - Produção diária (kg/vaca/dia), taxa de lotação (UA/ha) e produtividade de leite (kg/ha/dia) em pasto de capim-elefante (Cameroon) pastejados com 1,0 m de altura (95% de IL) ou 27 dias de período de descanso (média de 1,20 m).
Os capins Marandu (capim-braquiarão), Xaraés, Tanzânia responderam de forma análoga aos resultados obtidos e aqui apresentados com os capins Mombaça e Cameroom.
Devido à dificuldade em se adotar a mensuração da interceptação luminosa como critério de manejo do pastejo em condições de campo (leia, fazendas comerciais), pela demanda de uso de aparelhos específicos e caros (fotômero) se usou a altura do pasto, que se revelou durante o período experimental nos experimentos citados como sendo um parâmetro consistente para substituir a interceptação luminosa (IL) independente da época do ano, altura de resíduo e estádio fisiológico da planta forrageira.
É preciso ressaltar que em todos estes trabalhos, as condições de clima e solo, as espécies de capins, os animais (de raças puras ou cruzadas), a infraestrutura (cercas, bebedouros, cochos etc), a mão de obra, etc, foram iguais, sendo diferente apenas a prática do manejo do pastejo pela altura correta.
Estes resultados abrem novas perspectivas de ganhos significativos na produção e produtividade das pastagens sem investimentos e aumentos de custos adicionais.